O terremoto político que abalou o Brasil, provocado pela lista de Fachin e pela divulgação dos vídeos com as delações de ex-executivos da Odebrecht, se alastrou como tsunami por todas as redações do país. Informações e vídeos chegaram aos borbotões, a partir de terça à tarde, exigindo uma força-tarefa para o processamento e divulgação dos dados. A maior onda de informações chegou a Porto Alegre de avião, em um pesado arquivo de 310 gigabytes.
– Há mais de um mês, tínhamos entregado à assessoria do Supremo Tribunal Federal um HD para a gravação dos arquivos. Todas as redações dependiam desse material – conta Silvana Pires, coordenadora da Sucursal de Brasília.
Na quarta-feira, às 15h26min, a produtora de plantão no STF ligou para Silvana, dizendo que estava com o HD pronto. Aí começou uma corrida contra o tempo, para enviar o material para ZH. Os jornalistas da RBS em Brasília enviaram documentos e vídeos mais curtos pela internet, mas o grosso do material precisou ser despachado em um HD por avião, no voo das 20h55min para Porto Alegre.
No início da madrugada de quinta-feira, o motorista Alex Rabello foi ao aeroporto Salgado Filho buscar o HD. Tão logo chegaram à Redação, por volta das 2h, os cerca de 400 vídeos das delações começaram a ser processados. Em torno de 6h, a editora de vídeos Raquel Saliba começou a publicá-los na conta de ZH no YouTube e a organizar uma lista com todos os arquivos.
– Estávamos há mais de um mês de prontidão – conta Dione Kuhn, editora de Notícias de ZH.
– A qualquer hora do dia ou da noite, o ministro Edson Fachin divulgaria a lista e levantaria o sigilo das delações. Acordávamos e encerrávamos a jornada de olho no Supremo. Na terça-feira, fim de tarde, quando tudo veio à tona, mobilizamos em minutos uma equipe experiente de repórteres e editores para começar a destrinchar o material e a fazer análises e projeções. Em menos de uma hora, a capa do site de ZH estava com uma área especial com reportagens e vídeos. O próximo passo viria no dia seguinte, com a entrega aos principais veículos de comunicação do país, entre eles ZH, dos HDs contendo os vídeos das delações, as transcrições e as petições.
A engenharia de receber a lista, organizar os conteúdos, assistir aos vídeos, editar, endereçar o material no formato adequado para as diversas plataformas já seria uma tarefa de altíssima complexidade se tivesse dia e hora para acontecer.
– O fator surpresa – avalia nosso editor-chefe, Nilson Vargas –, gerado pelo furo de reportagem dos colegas do Estadão, que acessaram os conteúdos em primeira mão na terça-feira à tarde, adicionou a dose que faltava. Tivemos que apertar todos os botões de uma vez, mobilizar times em Brasília e Porto Alegre e conciliar a publicação instantânea com a preparação dos conteúdos mais densos e analíticos. Uma das frentes ativadas foi o foco nos inquéritos e delações que envolvem políticos gaúchos. Sem ferir a hierarquia que nos impõe valorizar mais as grandes figuras da República, um olhar responsável e profundo para os episódios ligados aos gaúchos é uma missão que ZH precisa cumprir com especial cuidado para atender à expectativa do seu público.
Foi uma semana complexa nas redações, com notícias em formato de bombas caindo sobre o público. Parece só o começo. A lista de Fachin e a chamada delação do fim do mundo ainda vão preencher o noticiário por muitas e muitas semanas.