Há 15 anos, um projeto social mistura cultura, arte, música e solidariedade para valorizar a cultura negra e arrecadar alimentos para comunidades carentes em Porto Alegre. Denominado de Rasteira na Fome, o evento ocorre todos os anos na capital, durante a Semana da Consciência Negra.
Através de shows, dança, culinária e muita capoeira, o projeto já arrecadou mais de 100 toneladas de alimentos, distribuídas para 53 instituições de caridade e 20 comunidades carentes. Tudo isso de maneira independente, contando apenas com a força de vontade e solidariedade dos envolvidos.
O idealizador do projeto é o professor de capoeira Fabiano "Cabeça" Silveira. Em 2002, ele realizou o batizado de capoeira para sua primeira turma de 50 alunos em uma escola da capital. Cabeça conta que, no início, o projeto surgiu para valorizar a capoeira e ajudar pessoas próximas.
"Começamos a buscar o tema, e nome, e surgiu esse nome de Rasteira na Fome, pois a 'rasteira' é o golpe mais específico da capoeira e 'na fome' que é nossa campanha de arrecadação de alimentos. Então, ele sugeriu de uma maneira bem despretensiosa, sem muita expectativa", conta.
No primeiro ano de projeto, 1 tonelada de alimentos foi arrecadada. Já no segundo ano, a quantidade saltou para 15 toneladas. A partir daí, o Rasteira na Fome buscou juntar encontros e rodas de capoeira com um lado mais artístico, misturando música, dança e sendo um divulgador da cultura afro.
"O que no início era só o objetivo de arrecadação de alimentos, de fazer o intercâmbio de capoeira, passou para um objetivo maior de o Rasteira na Fome ser um divulgador da cultura afro, na música, na dança, na religião, na culinária. Tentamos levar para um público leigo que não conhece a cultura do negro, que não conhece a capoeira, tentamos levar toda a sua expressão."
Cabeça conta que, em 15 anos de projeto, a maior dificuldade enfrentada foi a questão financeira, já que o evento é realizado de forma totalmente independente, contando apenas com a boa vontade e a disposição das pessoas em ajudar o próximo.
"Fazer um evento desses, dessa dimensão, um encontro nacional, com shows, dança, uma feira com culinária, em meio a Semana da Consciência Negra, sem patrocinador, completamente independente, contando apenas com o apoio de amigos e da família, é sem duvida a maior dificuldade", relata o professor e organizador do projeto.
Depois da mobilização, dos shows, das rodas de capoeira e da diversão, chega a hora de colher os frutos, com a distribuição dos alimentos para quem mais precisa. E esse é o momento mais marcante de todo o projeto.
"Quando a gente acaba o evento, acaba a distribuição dos alimentos, a gente consegue ver a riqueza cultural que foi deixada na cidade, pelos capoeiristas, pela música, pelas feiras... E deixar uma mensagem que podemos, sim, fazer a diferença e fazer diferente, ao invés de ficar lamentando que não tem incentivo, que as pessoas não apoiam, a gente puxa as mangas um pouco pra cima, chama os amigos, trabalhamos e conseguimos realizar e chegar nos nossos objetivos", diz Cabeça.
Desde quinta-feira (17), o Rasteira na Fome está sendo realizado em Porto Alegre com encontros de capoeira e intercâmbio de culturas em colégios e bares da Capital. Neste domingo (20), no Dia da Consciência Negra, ocorre o show de encerramento do evento, no Museu Joaquim Felizardo, que fica a Rua João Alfredo, no Bairro Cidade Baixa, a partir das 15h.
No local, haverá diversas atrações culturais, com show da banda Chimarruts e participação de Claus e Vanessa e Serginho Moah, além de muita dança, rodas de samba e de capoeira e feiras promovendo a cultura afro.
Para participar, basta doar 3 kg de alimento não perecível no local do evento. A expectativa é de que, neste ano, 10 toneladas de alimentos sejam arrecadadas em 4 dias de projeto. Mais informações e contatos podem ser consultados aqui.