O Rio Grande do Sul acordou perplexo, triste e consternado neste sábado (7), com a notícia da trágica morte de Fernandão, em acidente de helicóptero, no interior de Goiás. O ex-jogador, que tantas alegrias deu ao torcedor colorado, desta vez foi motivo de lágrimas pela sua partida precoce, aos 36 anos. Fernandão se foi, mas as lembranças positivas de sua vitoriosa trajetória pelo Inter permanecem. São memórias que transformaram o homem Fernando Lúcio da Costa em um ídolo de um clube, herói de uma torcida e um mito do futebol gaúcho.
Jogador, dirigente e técnico: o adeus de um ídolo colorado
Ouça os gols e relembre melhores momentos de Fernandão no Inter
O tempo é, talvez, a mais relativa das variáveis estabelecidades pela ciência e pela filosofia. Trinta e seis minutos do segundo tempo pode ser um tempo longo de sofrimento até o celebrado gol de um título mundial. Mas 36 anos de idade é muito cedo para morrer. Fernandão viveu pouco tempo, mas viveu intensamente. E cada colorado vai, pelo resto da vida, viver intensamente de novo na memória cada uma das alegrias proporcionadas pelo capitão. Os homens se vão, mas os feitos relevantes de um ídolo jamais se apagam. Cada gol marcado e cada taça erguida permanecerão eternos na retina do torcedor colorado. E essa energia manterá o ídolo vivo para toda a eternidade.
Confira nove momentos de Fernandão que transformaram o eterno camisa nove do Internacional em um grande ídolo:
1) Gol Mil em Gre-Nais
Fernandão foi contratado em junho de 2004 e fez a sua estreia em um clássico Gre-Nal, no dia 10 de julho. Ele entrou no segundo tempo e marcou o segundo gol da vitória colorada por 2 a 0, após cruzamento de Elder Granja. Naquele momento, o jogador não sabia, mas havia acabado de marcar o gol 1000 da história dos Gre-Nais. No seu primeiro jogo, Fernandão já colocou o nome na história do Internacional.
2) Golaço de bicicleta
Um mês depois do gol mil, Fernandão deixou a sua marca mais uma vez. Em jogo contra o Coritiba, no estádio Beira-Rio, pelo Campeonato Brasileiro, o atacante marcou um golaço de bicicleta, muito parecido com um gol histórico marcado por ele em 1999, pelo Goiás. O jogo terminou empatado por 1 a 1. O gol do Inter foi marcado aos 21 minutos do primeiro tempo, quando Fernandão recebeu próximo à meia-lua um cruzamento pelo alto. De costas para o gol, Fernandão matou no peito e, sem deixar a bola cair, aplicou um chapéu no zagueiro Flávio e engatilhou a bicicleta. A bola entrou no canto esquerdo. Um golaço que fez o moral do camisa nove com a torcida aumentar ainda mais.
3) Fernandependência
"Até a marquise do Beira-Rio sentiu a lesão do Fernandão". Assim o então presidente Fernando Carvalho definiu o impacto da lesão do camisa nove, na vitória por 1 a 0 sobre o Junior, de Barranquila (Colômbia), no dia 3 de novembro de 2004, pela Copa Sul-Americana. O gol, aliás, foi marcado por ele. Naquela época, o jogador era a peça mais importante do time do técnico Muricy Ramalho. O termo "Fernandependência" foi utilizado na época. Ali, Fernandão já se firmava como um dos principais jogadores do Inter na década.
4) Convocação para a Seleção Brasileira
"Ão, ão, ão. Fernandão é Seleção". Este foi o grito da torcida do Inter no Beira-Rio, quando Fernandão foi convocado para defender a Seleção Brasileira no amistoso contra a Guatemala, no dia 27 de abril de 2005, no Pacaembu, em São Paulo. Foi a única partida do atacante com a camiseta do Brasil. E em um jogo emblemático: a despedida do atacante Romário.
5) O Gol da América
Dezesseis de agosto de 2006. O dia mais importante da vida dos colorados até então. Era o dia da final da Copa Libertadores da América, contra o São Paulo, no Beira-Rio. A carência de títulos e a ausência de conquistas continentais estavam entaladas na garganta dos torcedores. Pois, aos 29 minutos do primeiro tempo, Jorge Wagner cobrou falta no lado direito. Cruzou alto para o segundo poste. O goleiro Rogério Ceni falhou e soltou a bola. Ligado, Fernandão esticou o pé direito e meteu a bola para o fundo das redes. Era o gol da América. 1 a 0. O jogo terminaria empatado por 2 a 2, resultado que deu o título ao Inter.
6) Fernandão, o Capitão América
Quando o árbitro argentino Horácio Elizondo apitou o final de Internacional 2 X 2 São Paulo, os anos de agonia e espera por uma Libertadores foram transformados em um mar de felicidade para os colorados. E quando o capitão Fernandão ergueu a taça tão sonhada, definitivamente o jogador se consagrava como um símbolo de uma era: um divisor de águas entre o Inter que não vencia e o Inter multicampeão.
7) Discurso do Mundial
A preleção feita por Fernandão no interior do vestiário do Estádio Nacional de Yokohama, no Japão, minutos antes de o time do Inter entrar em campo para a histórica final do Mundial 2006, contra o Barcelona, em 17 de dezembro daquele ano, entrou para a história. Na sua fala, o capitão lembrou que estar ali era um sonho para todos, pediu que honrassem o sentimento dos torcedores e lembrou que o adversário não era imbatível. O momento foi documentado em vídeo e divulgado no DVD oficial do clube. Até hoje, as imagens arrepiam os torcedores colorados de emoção.
8) A Taça do Mundial
Se faltava algo para Fernandão ser eternizado como um dos maiores, se não o maior, ídolo da história do Inter, a partir daquele dia, não faltava mais nada. O título de campeão mundial foi simbolizado com o gesto do capitão Fernandão erguendo a taça do Mundial de Clubes da Fifa, após a vitória por 1 a 0 contra o Barcelona. Aliás, o próprio Inter Campeão do Mundo é simbolizado na figura de Fernandão.
9) "Vamo, vamo, Inter"
Uma cena histórica, talvez mais emocionante que o título mundial, ocorreu no dia 19 de dezembro de 2006. O Internacional chegava do Japão, após a conquista do Mundial. Cinquenta mil colorados aguardavam os jogadores no interior do Beira-Rio para a festa. O avião que trazia a delegação sobrevoou o estádio antes de pousar na base aérea de Canoas. Depois, um caminhão de bombeiros conduziu os jogadores para o estádio. Pela cidade, uma carreata com vários colorados acompanhou os atletas. Pois quando os campeões chegaram ao gramado do Beira-Rio, Fernandão quebrou o protocolo da festa e protagonizou uma das cenas mais emocionantes da história do futebol gaúcho. Pegou o microfone, subiu no teto de vidro do túnel de acesso ao vestiário e começou a cantar como se fosse um torcedor a música: "Oh! Vamo, vamo, Inter!". A massa foi junto. Fernandão se tornou um maestro, conduzindo a festa de uma nação.
A mesma nação que hoje chora a morte de seu ídolo. Um ídolo que virou herói de uma torcida e um mito no coração dos colorados. Para toda a eternidade.