José Valdemir Bianchini Gheno, de 70 anos, hoje vive sozinho numa pequena casa em Passo Fundo. Ele é viúvo de dona Carmelina, uma das vítimas do advogado Maurício Dal Agnol, acusado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Estadual de desviar dinheiro de clientes que venceram ações judiciais contra a Brasil Telecom/OI. A idosa morreu de câncer sem ver a cor do dinheiro, que já estava disponível, mas que não havia sido liberado por Dal Agnol. Seu José conheceu Carmelina em 1969. Na época, os dois pertenciam à Igreja. Foram amigos durante anos. Em 1999, após deixarem a vida religiosa, se aproximaram.
"Ela já era religiosa de uma congregação muita amiga da nossa. Trabalhei muitos anos na Congregação Redentorista e sempre mantivemos muita convivência. Nós, estudantes, não tínhamos muita condição e elas tinham. Então nos ajudavam. Aí, em 1999 eu já estava aposentado, já havia deixado o sacerdócio e passamos a viver juntos", lembra José.
Seu José recorda da origem das ações judiciais contra a extinta CRT, atualmente Brasil Telecom/OI.
"Desde 1998, a Carmelina e eu negociamos a compra de dois telefones com direito às ações da companhia. E quando a CRT foi vendida para a Brasil Telecom, a empresa não indenizou como deveria indenizar".
O idoso lembra que ele e Carmelina decidiram procurar Dal Agnol para ingressar com ações judiciais, porque o advogado era o que mais tinha esse tipo de processo.
"Nós é que procuramos, porque já tínhamos notícias de outros familiares que haviam conseguido abrir os processos com o Dal Agnol. Não se tinha outros advogados na época que faziam isso com habilidade", ressalta.
O dinheiro da primeira ação judicial saiu em maio de 2011. Seu José agora tem dúvidas se o valor pago foi o correto.
"Hoje não sei se é o valor real. Há dúvida, porque assim como na segunda ação judicial foi burlado, então a gente percebe que pelo menos ele havia recebido há mais tempo e pagou quando ele quis".
Segundo José, a indenização da segunda ação judicial chegou em setembro de 2011.
"Era um total de R$ 126 mil e ele ofereceu R$ 16 mil", destaca José
Seu José desconfiou e contratou outro advogado para verificar o processo. Foi quando conseguiu reverter a situação e recebeu o que realmente tinha direito. Mas o dinheiro chegou tarde demais. Dona Carmelina, que tanto lutou pela indenização, já não tinha mais forças.
"Ela já estava no final da vida, desenganada, com duas a três cirurgias por ano", lamenta.
Para seu José, o dinheiro teria ajudado e muito na melhora da esposa.
"O dinheiro ajudaria imensamente, pelo menos em alguma medicação e um tratamento mais digno no próprio hospital", avalia.
Seu José tem superado diariamente a falta de Dona Carmelina. Considera o acontecido um absurdo.
"É lamentável porque nós vivemos num país de impunidade e os grandes tendo dinheiro fazem o que querem", destaca.
O advogado Maurício Dal Agnol é considerado foragido e é procurado também pela Interpol.