
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está no Japão, pediu nesta quarta-feira (26) a aceleração do processo para um acordo econômico entre o Mercosul e o país asiático, após a onda de tarifas anunciadas pelo presidente americano Donald Trump.
— Nossos países têm mais a ganhar pela integração do que pelo recurso de práticas protecionistas — declarou Lula em uma cerimônia ao lado do primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba.
O premier japonês disse levar este acordo a sério e que pressionará de maneira firma "para que o comércio e os investimentos bilaterais sejam mais fluidos".
— Círculos empresariais dos dois países acabam de nos pedir que alcancemos rapidamente um AAE Japão-Mercosul — declarou, fazendo uma referência a um Acordo de Associação Econômica, mais amplo do que um tratado de livre comércio.
Um documento da Federação Empresarial Japonesa Keidanren enfatiza que Japão e Mercosul têm uma "relação mutuamente complementar e são parceiros econômicos estrategicamente vitais". O texto pede a adoção do AAE para aprofundar a relação.
O comércio é o centro da visita de Lula ao Japão, diante da decisão de Trump de impor tarifas sobre grande parte das importações feitas pelos Estados Unidos.
— Nós não podemos voltar a defender o protecionismo. Nós não queremos uma segunda Guerra Fria. O que nós queremos é comércio livre para que a gente possa definitivamente fazer com que nossos países se estabeleçam no movimento da democracia, no crescimento econômico e na distribuição de riqueza — afirmou Lula.
O presidente acrescentou que Brasil e Japão enfrentam o desafio de recuperar seu comércio bilateral, que caiu de US$ 17 bilhões (R$ 96 bilhões) em 2011 para US$ 11 bilhões (R$ 62 bilhões) em 2024.
Depois de destacar a força econômica do país, Lula convidou "os japoneses a investir no Brasil, porque é um porto seguro".
Durante a visita, os países confirmaram a venda de até cem aviões E-190 da Embraer para a companhia aérea japonesa ANA.
Além disso, os dois países concordaram em cooperar na produção de biocombustíveis, um campo no qual o Brasil é pioneiro, para ajudar o Japão a aumentar o percentual de etanol em seus combustíveis a até 10% em 2030 e até 20% em 2040, segundo o plano estratégico de energia do país.
— A descarbonização não é uma escolha, é uma necessidade e grande oportunidade — afirmou Lula, que visita o Japão com uma delegação de ministros, congressistas, empresários e sindicalistas.
A cooperação em biocombustíveis é parte do conjunto de 10 acordos de cooperação bilateral e mais de 80 instrumentos entre empresas, bancos e universidades assinados entre os dois países.
COP30
A questão ambiental também foi abordada nas discussões em Tóquio, diante da proximidade da conferência do clima COP30 que acontecerá em novembro na cidade de Belém.
— Nós iremos realizar a COP mais importante de todas as COPs já realizadas, com muita responsabilidade, com muita serenidade, com menos ufanismo e com mais debate sério — completou.
Ao comentar o tema, Ishiba afirmou que "o Brasil, que preside a COP30 deste ano, é um parceiro confiável na luta contra as mudanças climáticas".
— Os excelentes biocombustíveis brasileiros e a mobilidade de alto desempenho japonesa são uma combinação chave para a neutralidade de carbono — disse.
Sem mencionar Trump, Lula criticou os governantes que questionam os compromissos climáticos mundiais, como o Protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris.
Também questionou a falta de cumprimento do Acordo de Copenhague de 2009, "porque os países ricos se comprometeram a dar US$ 100 bilhões por ano para que a gente pudesse manter as florestas em pé e isso não foi cumprido até agora".
Lula prometeu "zerar o desmatamento na Amazônia até 2030 e reforçar o combate a todos os tipos de ilícitos transnacionais" na região.