O ambientalista azeri Anar Mammadli ia buscar seu filho na creche quando foi preso em frente a todas as crianças. Uma prisão entre tantas outras, que ilustra a repressão em curso no país anfitrião da COP29, prevista para novembro.
Preso desde sua detenção em 29 de abril, Anar Mammaldi pode ser condenado a oito anos de prisão por "contrabando" se for considerado culpado, segundo disse à AFP seu amigo Bashir Suleymanli.
Juntos fundaram a organização Climate of Justice Initiative, para promover a defesa do meio ambiente neste país rico em hidrocarbonetos e governado de forma autoritária.
A organização "se viu obrigada a fechar sob a pressão do governo, antes mesmo de ter começado a sensibilizar a opinião pública acerca de questões ambientais", diz Suleymanli.
"Não dispomos de nenhuma plataforma para que sejamos ouvidos, sem falar de que não poderemos organizar manifestações durante a COP29", de 11 a 22 de novembro na capital Baku, acrescenta.
Grandes organizações de defesa dos direitos humanos, como a Anistia Internacional e Human Rights Watch, denunciaram o caso contra Mammadli, que avaliam ser baseado em acusações "espúrias" e, por isso, exigem sua libertação.
A Anistia vê nele o sinal de uma "repressão contínua contra os militantes da sociedade civil", antes da COP29, que reunirá delegações de cerca de 200 países convocados pela ONU.
- "Medidas severas" -
Nas ruas de Baku, as ruas estão sendo revitalizadas e os prédios pintados novamente. As autoridades querem mostrar a melhor imagem da capital para quando os representantes das delegações chegarem.
Grupos internacionais de defesa dos direitos humanos pediram à ONU e ao Conselho da Europa que "aproveitem a dinâmica da COP29" para "pôr fim à perseguição das vozes críticas" no Azerbaijão.
Kenan Khalilzade, da organização ecologista Ecofront, de Baku, afirma que os preparativos da COP29 deram lugar a "pressões governamentais" crescentes sobre os ambientalistas.
Ele mesmo afirma que foi brevemente preso no ano passado durante uma manifestação em Soyudlu, um povoado remoto do oeste do país.
Em 2023, a polícia disparou balas de borracha e lançou gas de efeito lacrimogêneo contra cidadãos que se manifestavam contra a construção de um tanque destinado a recolher os resíduos tóxicos de uma mina de ouro próxima.
Vários manifestantes foram presos como parte da repressão violenta, e Soyudu ficou fechada pela polícia durante semanas.
"A polícia ameaçou adotar medidas severas se algum dia eu tentasse retornar a Soyudlu", conta Khalilzade à AFP.
Segundo uma pesquisa realizada pela Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP), um consórcio de jornalistas, a mina em questão, formalmente explorada pela empresa britânica Anglo Asian Mining, é na verdade propriedade das duas filhas do presidente azeri, Ilham Aliev.
- Acusações "inaceitáveis" -
Qualquer sinal de dissidência no Azerbaijão costuma ser alvo de uma resposta firme do poder, muito criticado no Ocidente pela perseguição de opositores políticos e pelo silenciamento da imprensa.
Aos 62 anos, Ilham Alive governa o Azerbaijão desde 2003, quando seu pai, o presidente Heydar Aliev, um ex-general da KGB e ex-dirigente comunista de quando o país era uma república soviética.
A União do Azerbaijão para a Liberdade de Prisioneiros Políticos publicou uma carta com 288 nomes, incluindo líderes da oposição, defensores dos direitos humanos e jornalistas.
Em maio, a Human Rights Watch observou que a repressão no Azerbaijão levanta "sérias preocupações" sobre a capacidade dos ambientalistas de "participar de forma significativa" na COP29.
Por sua vez, o Ministério das Relações Exteriores do Azerbaijão rejeita essas acusações como "tendenciosas e inaceitáveis" e acredita que elas têm "motivações políticas inadequadas".
Khadija Ismayilova, uma jornalista investigativa que passou vários meses na prisão depois de expor um caso de corrupção, insiste que as delegações da COP29 devem se interessar seriamente pelo histórico de direitos humanos do Azerbaijão.
"Os países participantes da COP29 devem estar cientes de que a sociedade civil está sendo esmagada e oprimida", diz ela.
* AFP