O jornalista equatoriano Jorge Navarrete informou, nesta segunda-feira (4), que fugiu de seu país devido a ameaças de morte recebidas após publicar uma reportagem sobre o cultivo de folhas de coca na fronteira com a Colômbia, onde atua a guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN).
"Cheguei a outro país, garantindo minha segurança (...) Espero que as ameaças sejam resolvidas em breve, com a esperança de voltar logo ao Equador e continuar exercendo o jornalismo com compromisso e verdade", publicou o repórter na rede social X. Não se sabe para qual país ele viajou.
Em 22 de outubro, Navarrete publicou uma reportagem no meio digital La Posta sobre a existência de cultivos de drogas no norte do Equador sob o controle de rebeldes do ELN e narcotraficantes.
Em vídeo, o jornalista denuncia como crianças são empregadas como "raspachines", ou coletores que desfolham manualmente as plantas de coca, muitos deles, "provavelmente, da comunidade (indígena) Awa". Navarrete também mostra milhares de hectares desses cultivos "à vista" das autoridades e um laboratório onde é fabricada a pasta de coca, matéria-prima da cocaína.
Os "raspachines" recebem 2,50 dólares (R$ 14,5) por quintal (100 kg) colhido, segundo o jornalista. "A guerrilha aqui é um parceiro estratégico do narcotráfico. Os guerrilheiros garantem a segurança para as operações de plantio e produção, e o narcotraficante retribui esses serviços com dinheiro", explica o comunicador.
A aliança de organizações defensoras da liberdade de imprensa (Mapp) assegurou no X que Navarrete "vinha recebendo ameaças de supostos membros do ELN que teriam chegado a Quito nos últimos dias para atentar contra o jornalista e/ou sua família".
"No momento, a situação de Navarrete está controlada. Os protocolos de segurança implementados pela Mapp foram coordenados diretamente com ele", acrescentou a aliança, ressaltando que "a situação do jornalista e de sua família continua sendo de alto risco".
Quatorze repórteres tiveram que fugir do Equador entre 2023 e 2024, segundo a Mapp, devido ao recrudescimento da violência ligada ao narcotráfico.
Fundado em 1964, na Colômbia, e de orientação marxista-leninista, o ELN é a guerrilha mais antiga das Américas e está em negociações de paz com o governo do esquerdista Gustavo Petro.
Os rebeldes e outras organizações ilegais alimentam o conflito armado prolongado na Colômbia, país que mais produz cocaína no mundo, sendo a mineração ilegal e o narcotráfico os combustíveis desses grupos.
O governo do Equador assegurou em outubro ter identificado pelo menos 2.000 hectares de plantações de folhas de coca, em meio a uma batalha travada pelo país sul-americano contra o narcotráfico e a violência de grupos criminosos.
* AFP