Líderes de dezenas de países europeus se reuniram nesta quinta-feira (7), em Budapeste, para discutir as consequências do retorno de Donald Trump à Casa Branca e tentaram apresentar uma frente unida diante dos desafios em questões de segurança e defesa.
A agenda formal do encontro, que reuniu os 27 membros da UE e cerca de uma dezena de convidados, estava centrada em assuntos como migração e segurança econômica, mas a eleição de Trump dominou as conversas.
Os participantes da V Cúpula da Comunidade Política Europeia (CPE) expressaram sua preocupação com a perspectiva de possíveis tensões comerciais, mas também com a possibilidade de uma eventual redução da ajuda dos Estados Unidos à Ucrânia, um tema de extrema sensibilidade na Europa.
O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, afirmou que os temas tratados foram "muito complicados, difíceis e perigosos".
"Não temos tempo a perder", disse ele.
"A história se acelera com as eleições nos Estados Unidos, e um capítulo se fecha. O mundo vai mudar, e vai mudar mais rapidamente do que antes, mais rápido do que pensamos", afirmou Orban.
"Também concordamos que a Europa deve assumir uma maior responsabilidade em garantir nossa própria paz e segurança. Para dizer de forma clara: não podemos esperar que os americanos nos protejam", acrescentou.
Sobre a possibilidade de um fim negociado para a guerra na Ucrânia, os países que participaram da reunião concordaram que o Velho Continente deve ter um papel protagonista.
"A Europa deve continuar sendo um ator ativo nas negociações no futuro. Isso determinará o futuro da Europa", comentou Orban, que observou que "em breve haverá tais negociações".
Durante a campanha eleitoral, Trump prometeu pôr fim à guerra entre Ucrânia e Rússia em 24 horas.
Ainda nesta quinta-feira, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, afirmou que a ideia de fazer concessões à Rússia para acabar com a guerra era "inaceitável".
Para o primeiro-ministro da Finlândia, Petteri Orpo, a Europa deve enviar uma "mensagem clara aos Estados Unidos e ao novo governo de que nós apoiaremos a Ucrânia com tudo o que for necessário".
"Deve ser uma mensagem clara e forte", insistiu.
- Vodca em vez de champanhe -
Orban havia prometido abrir "várias garrafas de champanhe" para celebrar a vitória de Trump, mas nesta quinta-feira admitiu que, na verdade, comemorou com vodca.
"Eu estava no Quirguistão quando Donald Trump venceu as eleições, e lá eles têm tradições diferentes, então comemoramos alegremente com vodca", contou.
Na cúpula, o presidente francês, Emmanuel Macron, insistiu que o momento político favorece que a Europa inicie os passos para reafirmar sua autonomia.
"O momento exige que atuemos, defendamos nossos interesses nacionais e europeus, acreditando em nossa soberania, em uma autonomia estratégica", disse ele.
"Não devemos delegar eternamente nossa segurança aos americanos", insistiu Macron.
Na mesma linha, o primeiro-ministro da Grécia, Kyriakos Mitsotakis, comentou que "chegou o momento de despertarmos de nossa inocência geopolítica".
"Devemos ser realistas. Não podemos manter uma parceria transatlântica em uma posição de fragilidade", apontou.
A reunião, no entanto, colocou o controverso primeiro-ministro húngaro como uma figura política central no continente.
Por um lado, Orban mantém uma relação fluida com Trump, tanto que a presidência semestral da Hungria no Conselho Europeu tem como lema "Fazer a Europa Grande Novamente", que remete ao movimento "MAGA" (Make America Great Again) de Trump.
Por outro, Orban não esconde suas boas relações com o presidente russo, Vladimir Putin, com quem se reuniu em Moscou em junho, algo que irritou vários líderes europeus.
Na cúpula, também foi discutida a situação política na Alemanha, um peso pesado europeu e locomotiva econômica da UE, cuja aliança governamental se quebrou.
A crise política é tão grave que o chefe do governo, Olaf Scholz, não participou da reunião e tinha planos de chegar a Budapeste no início da noite.
Enquanto isso, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, lembrou que "nas democracias temos eleições e formação de governos".
O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, não participou da CPE devido à catástrofe decorrente das inundações em Valência.
* AFP