Milhares de profissionais do setor de transporte e comerciantes participaram de passeatas nesta quarta-feira (23), no Peru, em protesto contra a onda de extorsões e assassinatos praticados pelo crime organizado.
Somente em Lima, foram registrados 14 ataques contra o serviço público de transporte, e três motoristas foram assassinados neste ano, segundo a Associação Nacional de Integração de Transportadores (Anitra).
Os sindicatos interromperam suas atividades nesta quarta, no terceiro protesto deste tipo, o que afetou a mobilidade na capital peruana, de 10 milhões de habitantes.
"Não há solução, continua havendo mortos. Os delinquentes deram uma resposta mais rápida do que a polícia, a extorsão continua", disse à AFP Martín Valeriano, presidente da Anitra.
"É uma indignação que o povo sente, por isso hoje saíram às ruas diante da inércia do governo", acrescentou.
Desde cedo, dezenas de veículos de transporte público pararam de circular no marco da chamada "paralisação nacional" contra a falta de segurança.
Em Lima, profissionais de transporte e comerciantes fizeram uma marcha até a sede do Congresso, vizinha à Presidência, para exigir medidas mais drásticas contra quem pratica extorsões.
Acompanhados por policiais e militares, os manifestantes fizeram barulho com suas panelas e seguravam faixas com a frase: "Queremos viver em paz, sem extorsões".
"Viemos exigir deste governo segurança. Senhores, como é possível que haja tanta criminalidade, tanta matança, tanta extorsão?", declarou à AFP Mari Guerrero, uma comerciante de 37 anos.
"Como é possível que por 5 sóis (cerca de R$ 7,6) ou 10 sóis (cerca de R$ 15,2) estejam tirando vidas? Vidas de comerciantes, de empreendedores que trabalham dia após dia", disse a mulher.
Foram registradas marchas e bloqueios com queima de pneus nas regiões de Ayacucho, Piura, Puno, La Libertad, Ancash e Junín.
"Hoje, vários irmãos e irmãs participam de uma paralisação. Nós nos solidarizamos por sua preocupação com um Peru mais seguro e dizemos a eles que não cessaremos na tarefa de combater a delinquência com ações de inteligência e operações da polícia", disse a presidente Dina Boluarte.
Após um primeiro protesto e uma paralisação do transporte em Lima em 26 de setembro, o governo decretou estado de emergência em 14 dos 43 distritos da capital - que concentram mais de 60% da população - e mandou os militares às ruas para reforçar o combate à insegurança.
O segundo protesto foi realizado há 13 dias.
Quadrilhas do crime organizado cobram até 50.000 sóis (aproximadamente R$ 77.000) por mês das empresas de transporte. Quando elas se recusam, atacam os veículos a tiros, inclusive com passageiros a bordo.
Segundo a polícia, entre janeiro e setembro houve no Peru 14.220 denúncias de extorsão. Em todo o ano de 2023, foram reportadas 22.294 denúncias.
Entre as regiões com mais denúncias de extorsão estão Lima, com 5.708, e La Libertad, com 3.469.
* AFP