Um tribunal da Guatemala concedeu prisão domiciliar ao jornalista José Rubén Zamora, preso desde julho de 2022 por processos abertos pelo questionado Ministério Público do país, que motivaram condenações internacionais e apelos urgentes para a sua libertação.
"É deferido" o pedido de prisão domiciliar, após ser considerado que, "por razões de direitos humanos, o prazo de prisão (preventiva) ultrapassou os limites", afirmou o juiz Erick García, após quase oito horas de audiência na Cidade da Guatemala.
Zamora ficou preso mais de 800 dias em um quartel militar no norte da Cidade da Guatemala e agora responderá, em prisão domiciliar, aos processos por obstrução da justiça e suposta lavagem de dinheiro e chantagem.
O jornalista de 68 anos declarou à imprensa que estava "feliz" com a decisão e afirmou que não pretende deixar o país. Ao final da audiência, a decisão judicial foi aplaudida.
A prisão de Zamora foi criticada pelos Estados Unidos e outros países, pela imprensa internacional, organizações de direitos humanos e pelo próprio presidente da Guatemala, Bernardo Arévalo.
O jornalista insiste na sua inocência e sustenta que sua prisão é uma retaliação pela publicação de casos de corrupção em seu jornal El Periódico no anterior governo do direitista Alejandro Giammattei (2020-2024).
Também afirma que é punido por suas críticas à procuradora-geral Consuelo Porras, sancionada pelos Estados Unidos, ao lado do ex-presidente, por considerá-los "antidemocráticos" e "corruptos".
- "Calvário infernal" -
Rebecca Vincent, diretora de campanhas da Repórteres Sem Fronteiras (RSF), expressou alívio pelo fim da "provação infernal" de Zamora na prisão, mas advertiu que "ele continuará sendo arbitrariamente privado de sua liberdade enquanto lutar contra casos falsos contra ele".
Um total de 19 ONGs locais e estrangeiras pediram sua libertação na quinta-feira, incluindo a Anistia Internacional (AI), que em agosto declarou o jornalista um "prisioneiro de consciência".
Um relatório divulgado em agosto por um grupo de especialistas da ONU afirma que Zamora foi submetido a "20 meses" de "confinamento solitário em escuridão quase constante", "tratamento" que "equivaleria a tortura".
As condições prisionais do jornalista melhoraram depois que Arévalo chegou ao poder em janeiro, e nos últimos meses ele recebeu várias visitas em sua cela, incluindo uma na semana passada de Todd Robinson, funcionário do governo americano.
Em julho, a Fundação Gabo da Colômbia concedeu a Zamora o Reconhecimento à Excelência do Prêmio Gabo 2024.
Quando Zamora já estava preso há quase 10 meses, El Periódico, que ele fundou em 1996, parou de ser publicado em 15 de maio de 2023.
El Periódico recebeu vários prêmios, incluindo Mídia de Destaque no Prêmio Rei de Espanha de Jornalismo Internacional de 2021.
* AFP