O papa Francisco qualificou, nesta quarta-feira (28), de "pecado grave" as tentativas de "repelir" os migrantes e pediu a "solidariedade", em uma oração por aqueles que morreram no mar ou foram "abandonados no deserto".
"Tem-se que dizer isso claramente: há quem trabalha sistematicamente de todas as formas para repelir os emigrantes. E isso, quando é feito conscientemente e com responsabilidade, é um pecado grave", insistiu o papa em sua audiência geral semanal no Vaticano.
"Alguns desertos também, infelizmente, se tornam cemitérios de migrantes. Muitas vezes, essas mortes não são 'naturais'. Não. Às vezes, os levam ao deserto e os deixam ali", acrescentou.
O papa argentino, um fervoroso defensor dos migrantes, não mencionou nenhum país, mas suas declarações podem ser interpretadas como uma referência à atualidade, especialmente na Europa e México.
Em meados de 2023, dezenas de migrantes subsaarianos foram resgatados por guardas líbios, que afirmaram terem sido expulsos e abandonados pelas autoridades tunisianas em uma região desértica na fronteira entre os dois países. As imagens de homens e mulheres sedentos vagando pelo deserto deram a volta ao mundo.
Em maio, a União Europeia reconheceu "uma situação difícil" após a publicação de uma investigação jornalística que revelou que dezenas de milhares de migrantes foram presos e abandonados em pleno deserto no Marrocos, Tunísia e Mauritânia, com o apoio financeiro da UE.
Recentemente, a UE adotou uma grande reforma de sua política de asilo e migração, com o objetivo de endurecer os controles de chegadas e acelerar o retorno dos migrantes que não obtenham o direito ao asilo.
O papa de 87 anos voltou a qualificar o mar Mediterrâneo de "cemitério".
"A tragédia é que muitos, a maioria desses mortos, poderiam ter sido salvos", acrescentou.
Segundo ele, a solução para o fluxo migratório não passa por "leis mais restritivas" nem pela "militarização das fronteiras", mas sim pela ampliação de "vias de acesso seguras e legais".
Em 2023, mais de 3.000 migrantes foram reportados como desaparecidos após tentar cruzar o Mediterrâneo, segundo Organização Internacional para as Migrações (OIM).
* AFP