O Uruguai se despediu nesta quinta-feira (6) da militante comunista Amelia Sanjurjo, presa e desaparecida durante a ditadura (1973-1985) e cujos restos mortais foram encontrados há um ano em uma unidade militar, embora só tenham sido identificados na semana passada.
Centenas de pessoas passaram pelo caixão, durante uma homenagem convocada pela Associação de Mães e Familiares de Uruguaios Detidos Desaparecidos, na Universidade da República, em Montevidéu.
"A tia Pocha volta hoje para nós", diz uma mensagem enviada por familiares que vivem no exterior lida antes de o cortejo fúnebre seguir para o cemitério da capital onde o corpo foi sepultado sob aplausos e entre bandeiras do Partido Comunista.
Amelia Sanjurjo Casal tinha 40 anos quando foi presa, em 2 de novembro de 1977, em via pública, na capital uruguaia. Era vendedora de livros, militava no bairro Colón e estava grávida.
Segundo informações oficiais, Amelia teria morrido seis dias após o seu sequestro, ao ser levada para uma sessão de tortura em La Tablada, sede do Órgão Coordenador de Operações Antissubversivas (Ocoa). Seus restos foram encontrados em 6 de junho de 2023, no Batalhão 14 do Exército, mas sua identidade foi confirmada apenas no mês passado, devido à falta de material genético de parentes diretos, já que Amelia não teve filhos e seus pais morreram.
"Foi uma vitória da ciência e do trabalho meticuloso e da perseverança de muita gente", disse hoje à AFP a antropóloga Alicia Lusiardo, coordenadora do grupo dedicado à busca de presos desaparecidos no país há 17 anos.
O procurador especializado em crimes contra a humanidade Ricardo Perciballe disse que vai pedir a reabertura do processo judicial sobre o caso, "para investigar quem foram os responsáveis diretos pelo seu assassinato".
* AFP