Organizações feministas denunciaram, nesta terça-feira (28), uma "deterioração" nos cuidados de saúde das mulheres presas em El Salvador sob o regime de exceção com o qual o governo de Nayib Bukele combate as gangues.
"Atualmente, as mulheres privadas de liberdade no contexto do regime de exceção, muitas delas grávidas, não têm recebido os cuidados de saúde necessários, há uma deterioração nesse aspecto", afirmou, em coletiva de imprensa, Alejandra Burgos, coordenadora da ONG Rede de Defensoras dos Direitos Humanos.
Sem mencionar um número preciso de mulheres afetadas por esta situação nas prisões, Burgos indicou que muitas necessitam de acesso a serviços de ginecologia e obstetrícia, mas "poucas" recebem atendimento "devido à escassez de profissionais médicos".
Bukele, que iniciará um novo mandato presidencial em 1º de junho, lançou sua ofensiva contra as gangues em março de 2022, após uma escalada de 87 homicídios em um único fim de semana. O presidente salvadorenho adotou um questionado regime de exceção que permite a prisão de suspeitos sem ordem judicial.
"Nenhuma política de segurança é justificativa para a violação dos direitos humanos das mulheres, e a privação da liberdade não é desculpa para limitar ou negar serviços de saúde", disse Esteban Madrigal, advogado do Centro de Direitos Reprodutivos.
Roxana Rodríguez, representante da Assembleia Feminista, acrescentou que as gestantes têm "acesso dificultado" a "exames pré-natais" nas prisões, que há ausência de tratamentos para complicações relacionadas à gravidez e, em geral, as mulheres não recebem atenção de saúde mental".
Desde o início da ofensiva contra as gangues, pouco mais de 80 mil supostos membros destes grupos criminosos foram detidos, segundo as autoridades.
No entanto, organizações de direitos humanos sustentam que entre os detidos há milhares de pessoas inocentes e que a "crise" dos direitos humanos pode ser "perpetuada" em El Salvador.
Segundo o governo, mais de 7.600 pessoas foram libertadas.
* AFP