Os bispos católicos africanos afirmaram, nesta quinta-feira (11), que a recente aprovação por parte do Vaticano de bênçãos a casais homoafetivos é "inadequada" no contexto cultural desse continente.
A homossexualidade ainda é ilegal em muitos países africanos, que a reprimem, em muitos casos, incentivados pelos setores mais conservadores do cristianismo e do islamismo.
Em um documento denominado "Fiducia suplicans" (A confiança suplicante), a Santa Sé autorizou no mês passado, com a aprovação do papa Francisco, a bênção de casais "irregulares" aos olhos da Igreja, incluindo os de divorciados e de pessoas do mesmo sexo, desde que essa bênção fosse realizada fora de rituais litúrgicos.
Essa iniciativa foi rejeitada pelos bispos, principalmente de países africanos, e levou o Vaticano a esclarecer que não implicava qualquer mudança na doutrina e a destacar a necessidade de manter a "prudência" em alguns países.
"A doutrina da Igreja sobre o casamento cristão e a sexualidade permanece inalterada", destacou também nesta quinta-feira o Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar (Secam), em um comunicado emitido em Acra, capital do Gana.
"Por esta razão, nós, os bispos africanos, consideramos inadequado abençoar uniões homossexuais ou casais do mesmo sexo na África porque, no nosso contexto, isso causaria confusão e estaria em contradição direta com o ethos cultural das comunidades africanas", acrescenta o documento.
A iniciativa do Vaticano se deparou com uma oposição especialmente forte em Malauí, Nigéria, Zâmbia e República Democrática do Congo.
Na Costa do Marfim, os bispos e arcebispos alertaram que a bênção a casais do mesmo sexo poderia gerar "confusão" e "escândalo".
E na Nigéria, a Conferência Episcopal informou em dezembro que esta bênção "iria contra a lei de Deus, os ensinamentos da Igreja, das leis [do país] e das sensibilidades culturais" da população.
Em outras regiões, ao contrário, os padres já tinham dado passos na linha do "Fiducia suplicans", antes, inclusive, de que fosse publicado. Alguns sacerdotes já abençoavam casais do mesmo sexo em países como Bélgica e Alemanha.
Desde a sua eleição, em 2013, Francisco, de 87 anos, tem tentado abrir as portas da Igreja a todos os fiéis, incluindo à comunidade LGTBQIAP+, sem vencer a resistência dos católicos mais conservadores.
* AFP