As eleições gerais na República Democrática do Congo, nas quais o atual presidente enfrenta uma oposição fragmentada, vão continuar nesta quinta-feira (21) nas regiões onde os eleitores não puderam depositar suas cédulas, em uma votação marcada por problemas logísticos e atrasos.
Quase 44 milhões de pessoas estão registradas para votar nas eleições presidenciais deste país de 100 milhões de habitantes. O pleito tem turno único e se desenvolve em um clima político e de segurança bastante tenso.
O atual presidente Félix Tshisekedi, de 60 anos e no poder desde o início de 2019, concorre à reeleição com outros 18 candidatos.
"As seções eleitorais que não abriram em absoluto estarão abertas nesta quinta-feira", declarou à emissora de televisão oficial Denis Kadima, presidente da Comissão Eleitoral Nacional Independente.
Kadima não detalhou o número de seções afetadas, mas disse depois que "o grosso dos eleitores", que estimou em "não menos que 70%", "conseguiu votar" nesta quarta.
Em algumas seções houve "problemas" com as "máquinas" de votação e com as "baterias", declarou o arcebispo de Kinshasa, monsenhor Fridolin Ambongo, depois de votar.
"É preciso encontrar soluções rapidamente, se não, as eleições vão se estender por vários dias", acrescentou.
Na capital, Kinshasa, os centros de votação abriram com atraso, às 9h00, observou um correspondente da AFP.
Várias missões enviaram observadores para supervisionar o pleito: a principal delas é coordenada por um grupo das igrejas católica e protestante, que mobilizaram 25.000 observadores.
Os diretores desta missão influente prometeram organizar uma "apuração paralela" das eleições presidenciais.
- 'Caos total' -
Embora reconheça que seu legado tenha altos e baixos, Tshisekedi pede mais cinco anos para "consolidar as conquistas".
Durante a campanha, o atual presidente criticou os rivais, que chamou de "candidatos estrangeiros".
Também sugeriu que não teriam coragem para enfrentar Ruanda, que a República Democrática do Congo acusa de financiar grupos rebeldes presentes em seu território.
Moise Katumbi, um empresário de 58 anos e ex-governador da província de Katanga, rica em recursos minerais, é o principal alvo desses ataques.
Também concorre à presidência Martin Fayulu, um ex-executivo do petróleo de 67 anos que afirma ter sido o verdadeiro ganhador das eleições de 2018, quando Tshisekedi chegou ao poder.
Outro candidato é o ginecologista Denis Mukwege, de 68 anos, ganhador do Nobel da Paz em 2018 por seus esforços para ajudar vítimas de estupro.
Os três opositores denunciaram hoje situações de "caos" e "irregularidades".
"É um caos total", disse Martin Fayulu, acusando novamente a Comissão Eleitoral de querer a vitória de Tshisekedi. Moïse Katumbi, por sua vez, pediu aos eleitores que acompanhassem a contagem dos votos "até o final".
- Incidentes violentos -
Pela manhã foram registrados incidentes em Mbandaka (noroeste), onde, segundo um funcionário, uma "máquina de votação" foi incendiada e a população lançou pedras na polícia, que respondeu com disparos.
O processo eleitoral também se viu afetado pela situação precária de segurança no leste do país, onde a violência armada em curso desde meados dos anos 1990 alcançou um ápice de tensão nos dois últimos anos, com o ressurgimento do grupo rebelde M23, apoiado por Ruanda.
Nos últimos dias, os combates diminuíram, mas os rebeldes continuam ocupando terrenos na província de Kivu do Norte. Nessas áreas, a população não pôde votar.
Na província vizinha de Ituri, também assolada pela violência de grupos armados, alguns manifestantes vandalizaram uma seção eleitoral. "Saquearam tudo", disse um responsável da Comissão Eleitoral.
Na República Democrática do Congo, um país rico em recursos naturais, dois terços da população vivem abaixo do nível da pobreza, segundo o Banco Mundial.
* AFP