O Azerbaijão lançou uma operação militar em Nagorno-Karabakh nesta terça-feira (19), três anos depois do último conflito, e pediu a retirada "total e incondicional" de seu rival armênio deste enclave montanhoso no Cáucaso, há três décadas sob disputa.
Segundo relatos de ambas as partes, os combates deixaram pelo menos 27 mortos, incluindo dois civis, e mais de 200 feridos do lado armênio. Já no lado do Azerbaijão há informação de dois civis falecidos.
A tensão vem crescendo há meses em Nagorno-Karabakh, um enclave separatista em território azeri de população majoritariamente armênia, que já foi foco de duas guerras, e a última delas, em 2020, durou seis semanas.
A Presidência do Azerbaijão pediu às forças separatistas armênias que deponham as armas e "ergam a bandeira branca", antes de se sentarem para negociar "com os representantes da população armênia de Karabakh", em Yevlax, uma cidade azeri.
Antes desta exigência de capitulação por parte de Baku, as autoridades regionais do enclave em disputa haviam pedido um cessar-fogo imediato e negociações.
As autoridades separatistas de Nagorno-Karabakh indicaram que várias cidades, incluindo a capital regional Stepanakert, são alvo de "disparos intensos" contra infraestrutura civil.
Os combates acontecem "ao longo de toda a linha da frente" e o Exército azeri ataca com "disparos de artilharia e mísseis, drones ofensivos e aviação de combate", afirmaram as forças separatistas, que retiraram mais de 7.000 civis de 16 localidades.
Baku, por sua vez, assegurou na noite desta terça-feira que já havia assumido o controle de cerca de 60 posições armênias.
- 'Agressão em grande escala' -
A diplomacia armênia denunciou uma "agressão em grande escala", destinada a fazer uma "limpeza étnica" no enclave. Também considerou que a Rússia, garante do cessar-fogo de 2020 com forças de paz no terreno, deveria "deter a agressão azeri".
O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, pediu a Moscou - seu aliado tradicional - e à ONU que atuem no conflito.
Em um comunicado publicado na madrugada desta quarta-feira (20, noite de terça em Brasília), o Ministério das Relações Exteriores russo instou "as partes no conflito a deter imediatamente o derramamento de sangue, as hostilidades e evitar vítimas civis".
A Armênia garante que não tem tropas em Nagorno-Karabakh e deu a entender que as forças separatistas estão sozinhas contra o Exército do Azerbaijão.
O Ministério de Defesa azeri anunciou hoje o início de "operações antiterroristas" no enclave para deixar fora de combate "posições das forças armadas armênias", depois da morte de seis azeris na explosão de minas durante obras em uma rodovia.
A diplomacia azeri advertiu que "a única forma de conseguir paz e estabilidade" é "a retirada incondicional e total das forças armadas armênias" do território e "a dissolução do chamado regime separatista".
Em contrapartida, o premiê armênio acusou o Azerbaijão de querer "arrastar a Armênia para o conflito".
Em Erevan, capital da Armênia, manifestantes se reuniram em frente à sede do governo para pedir a renúncia de Pashinyan, que classificou esses apelos como pedidos de "golpe de Estado".
Nos últimos três anos, a oposição armênia tentou derrubar Pashinyan do poder, acusando-o de ser responsável pela derrota militar armênia na guerra no final de 2020 em Nagorno-Karabakh.
"Há atualmente um verdadeiro risco de uma instabilidade generalizada na Armênia", reconheceram os serviços de segurança deste país do Cáucaso.
- Turquia 'apoia' a ofensiva -
O Azerbaijão disse que havia informado Rússia e Turquia sobre suas operações no enclave, o que gerou "preocupação" por parte do Kremlin, segundo o porta-voz russo Dmitry Peskov, que garantiu estar tentando convencer ambos os países a retornarem "à mesa de negociação".
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, classificou de "inaceitável" a intervenção militar de Baku e pediu um cessar-fogo "imediato".
Na ONU, em meio à Assembleia Geral anual com líderes do mundo todo, tanto Estados Unidos como França se mobilizaram para tentar impedir uma ofensiva.
Já a Turquia, o principal aliado do Azerbaijão, considerou "legítima" a ofensiva de Baku e seu presidente, Recep Tayyip Erdogan, manifestou "apoio" à operação militar.
O Azerbaijão justificou suas ações como uma resposta à morte de quatro policiais e dois civis azeris após a explosão de minas onde estava sendo construído um túnel, entre Shusha e Fizuli, duas cidades de Nagorno-Karabakh sob seu controle.
O enclave é uma das regiões mais minadas da antiga União Soviética, cujas explosões causam mortes com certa regularidade. Mas os serviços de segurança azeris acreditam que foi um grupo de "sabotadores" separatistas armênios que plantou os artefatos explosivos, cometendo um ato de "terrorismo".
O conflito anterior, em 2020, terminou com a derrota militar da Armênia, que teve que ceder territórios em Nagorno-Karabakh e arredores ao Azerbaijão.
* AFP