As autoridades da África Ocidental debaterão na quinta-feira (10), a situação do Níger, duas semanas depois do golpe de Estado e após vencer seu ultimato exigindo a restituição do presidente deposto, Mohamed Bazoum, sob a ameaça de uso da força.
"As autoridades da Cedeao abordarão a situação política e os recentes desenvolvimentos no Níger" em uma cúpula em Abuja, capital da Nigéria, informou a Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao).
Os militares que tomaram o poder no Níger em 26 de julho ignoraram o ultimato da Cedeao para restaurar a democracia até a meia-noite local (20h00 em Brasília) de domingo, sob a ameaça de uma possível intervenção militar.
No entanto, segundo uma fonte próxima ao bloco, por enquanto não está prevista uma operação deste tipo e novos caminhos de diálogo parecem surgir.
O primeiro-ministro do presidente deposto, Ouhoumoudou Mahamadou, indicou que "a junta pediu à delegação da Cedeao que voltasse", o que poderia acontecer "hoje [segunda-feira] ou amanhã".
Uma missão da Cedeao visitou Niamei na última quinta-feira para negociar uma saída para a crise, mas deixou o Níger poucas horas depois sem conseguir conversar com o general Abdourahamane Tiani, chefe dos militares no poder, nem com Bazoum.
Os Estados Unidos também tentaram intermediar no conflito através da número dois de sua diplomacia, Victoria Nuland, que se reuniu por mais de duas horas com as lideranças militares em Niamei.
"Essas conversas foram extremamente francas e, em alguns momentos, bastante difíceis", declarou Nuland, que acrescentou que seus interlocutores não aceitaram sua oferta de ajuda para retornar à ordem constitucional.
A secretária de Estado adjunta reconheceu que a junta não respondeu a seu pedido de reunião com o general Tiani nem com o presidente eleito detido Bazoum.
O representante do secretário-geral da ONU para a África Ocidental e o Sahel, Leonardo Santos Simão, encontra-se atualmente em Abuja, onde dialoga "com as partes regionais envolvidas", indicou a entidade.
- Novas questões diplomáticas -
O golpe de Estado foi condenado por outros países africanos, assim como por França e Estados Unidos, que têm no Níger 1.500 e 1.100 soldados, respectivamente, para lutar contra as organizações jihadistas que operam na região.
No entanto, vários países africanos descartaram uma intervenção militar.
Mali e Burkina Faso, suspensos da Cedeao devido aos golpes de Estado que também levaram militares ao poder em 2021 e 2022, respectivamente, manifestaram, por outro lado, seu apoio ao governo que depôs Bazoum no Níger.
Esses dois países enviaram uma delegação oficial conjunta a Niamei para mostrar sua "solidariedade ao povo do Níger", anunciou o Exército malinense.
O chefe da diplomacia do Mali, Abdoulaye Diop, afirmou nesta segunda-feira que uma intervenção militar seria "uma catástrofe".
Os senadores da Nigéria, peso-pesado da Cedeao, pediram "o fortalecimento da opção política e diplomática" para encontrar uma solução para o conflito.
A Argélia, que não é membro da Cedeao, mas compartilha cerca de 1.000 km de fronteira com o Níger, também expressou suas ressalvas.
Os alertas contra uma ação militar também vieram de países ocidentais.
A Itália pediu à Cedeao a prorrogação do ultimato e uma tentativa para encontrar uma solução diplomática, assim como a Alemanha, que considera que os esforços diplomáticos estão apenas começando.
- Fechamento de espaço aéreo -
Pouco antes do ultimato da Cedeao expirar à meia-noite, o Exército nigerino anunciou o fechamento do espaço aéreo "até novo aviso", perante a "ameaça de intervenção" estrangeira.
Qualquer violação dessa medida dará lugar a "uma catástrofe energética e imediata" e qualquer Estado envolvido em uma intervenção "será considerado beligerante", ameaçou o Conselho Nacional de Salvaguarda da Pátria (CNSP), órgão dos militares no poder no Níger.
Na noite de segunda-feira, os militares anunciaram também a indicação de um novo primeiro-ministro, Ali Mahaman Lamine Zeine, que já foi ministro das Finanças no passado.
A calmaria reinava em Niamei na manhã desta segunda-feira, após uma concentração na véspera de cerca de 30.000 apoiadores dos militares no maior estádio do país.
Com bandeiras do Níger, da vizinha Burkina Faso e da Rússia, a multidão vaiou a França e a Cedeao e aclamou os membros do CNSP que participaram do ato.
A França, ex-potência colonial, suspendeu no domingo, "até novo aviso", todas as suas "ações de ajuda ao desenvolvimento e apoio orçamentário" em Burkina Faso.
* AFP