O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, afirmou que uma nova guerra é "muito provável" entre o seu país e o Azerbaijão, que disputam o controle do território de Nagorno Karabakh, e denuncia que um "genocídio está em curso" nesse enclave.
"Enquanto não houver a assinatura de um tratado de paz e os parlamentos dos dois países não tiverem ratificado esse tratado, certamente que uma guerra é muito provável", disse Pashinyan nesta sexta-feira (21) em entrevista à AFP.
Desde os anos 1990, Armênia e Azerbaijão travaram duas guerras pelo controle de Nagorno Karabakh, um território montanhoso de população majoritariamente armênia, encravado no Azerbaijão.
O último conflito, no final de 2020, terminou com uma derrota da Armênia, que teve que ceder territórios ao Azerbaijão dentro e em volta do enclave. Cerca de 6.500 pessoas morreram.
Desde então, o processo de paz entre os dois países do Cáucaso está em ponto morto e as tentativas de mediação de União Europeia (UE), Estados Unidos e Rússia deram poucos resultados.
A tensão se agravou no início deste mês, quando o Azerbaijão, alegando diversos pretextos, fechou a circulação pelo corredor de Lachin, a única estrada que liga Nagorno Karabakh com a Armênia.
O bloqueio provocou uma crise humanitária no enclave, com falta de comida e medicamentos, e cortes frequentes do abastecimento de energia.
"Não estamos falando da preparação de um genocídio, mas de um genocídio em curso", disse Pashinyan, ao acrescentar que o Exército azeri transformou Nagorno Karabakh em um "gueto".
Na semana passada, a AFP falou com moradores de Stepanakert, a principal cidade do enclave, que relataram prateleiras vazias nos mercados e problemas sérios de acesso a serviços médicos.
- Uma posição 'difícil' de defender -
A última rodada de negociações de paz, em 15 de julho em Bruxelas, não propiciou nenhum avanço.
O dirigente armênio considera que os países do Ocidente e a Rússia devem aumentar a pressão para que o Azerbaijão suspenda o bloqueio. Moscou dispõe de um contingente de soldados de paz no território, mas não consegue conter a crise.
Segundo Pashinyan, as negociações entre ambas as partes se veem dificultadas pela "retórica agressiva e o discurso de ódio do Azerbaijão em relação aos armênios".
Apesar do cessar-fogo de 2020, os incidentes com mortos entre as duas partes são frequentes, tanto em Nagorno Karabakh como na fronteira entre os dois países.
Yerevan também acusa seu vizinho de agredir paulatinamente o território armênio.
Em sua entrevista com a AFP, Pashinyan indicou que "as linhas vermelhas" de seu país para negociar com o Azerbaijão são "a integridade territorial e a soberania da Armênia e os direitos e a segurança dos armênios em Nagorno Karabakh".
"A posição da Armênia é difícil, porque o interesse da Armênia neste processo é percebido e interpretado no Azerbaijão como uma suposta intromissão na integridade territorial azeri", indicou Pashinyan.
Nas negociações anteriores, sob mediação ocidental, Yerevan aceitou reconhecer Nagorno Karabakh como parte integrante do Azerbaijão, mas exigiu mecanismos internacionais para garantir os direitos e a segurança da população de origem armênia.
Baku insiste em que essas garantias devem ser formuladas a nível nacional e rejeita um formato internacional para solucionar a questão.
* AFP