Uma nova trégua de 72 horas entrou em vigor neste domingo (18) entre os dois generais que disputam o poder no Sudão para facilitar a chegada de ajuda humanitária, às vésperas de uma conferência internacional em Genebra.
O cessar-fogo, anunciado no sábado pela Arábia Saudita e pelos Estados Unidos, está em vigor desde as 06h00 (01h00 no horário de Brasília) neste país do leste da África, um dos mais pobres do mundo.
O Sudão está imerso em um conflito iniciado em 15 de abril entre o chefe do Exército, general Fattah al Burhan, e os paramilitares Forças de Apoio Rápido (FAR), comandadas pelo general Mohamed Hamdan Daglo.
A guerra já deixou mais de 2.000 mortos, segundo a ONG ACLED, e mais de 2,2 milhões de deslocados e refugiados, segundo as Nações Unidas.
O conflito também agravou a crise humanitária no país. Segundo a ONU, 25 milhões dos 45 milhões de habitantes do Sudão sobrevivem atualmente graças à ajuda humanitária.
A Arábia Saudita patrocinará uma conferência internacional em Genebra na segunda-feira para arrecadar mais ajuda.
O contexto é difícil. Todas as agências da ONU afirmam que não receberam nem um quinto dos fundos solicitados.
- 'Uma trégua não é suficiente' -
Ambos os lados prometeram respeitar o cessar-fogo, apesar de as tréguas anteriores terem sido sistematicamente violadas.
Os dois lados "concordaram em permitir a liberdade de movimento e entrega de ajuda humanitária em todo o Sudão", disseram os mediadores.
Em Omdurman, cidade localizada ao lado da capital Cartum, Sami Omar disse à AFP que deseja "um cessar-fogo total, porque uma trégua não é suficiente".
"Eles podem parar de lutar, mas as FAR não vão sair das casas [que ocupam] e passar pelos postos de controle ainda é tão difícil" quanto nos dias de combate, acrescentou.
Em caso de desrespeito à trégua, a Arábia Saudita ameaçou "adiar" as negociações que decorrem no seu país entre ambas as partes.
Iniciadas há algumas semanas, as negociações até agora não conseguiram pôr fim às hostilidades. No entanto, ambos os lados continuam enviando emissários para diferentes capitais.
O presidente egípcio Abdel Fattah al-Sissi, aliado do Exército sudanês, recebeu o número dois do general Burhan neste domingo.
- Desastre humanitário em Darfur -
No terreno, a situação continua preocupante, com escassez de alimentos e medicamentos.
Cartum vivenciou um aumento de bombardeios aéreos nos últimos dois dias, que deixaram pelo menos 17 civis mortos, incluindo cinco crianças, segundo testemunhas.
As FAR, que acusam o Exército de concentrar seus bombardeios em áreas residenciais, afirmaram que derrubaram um avião de combate das forças regulares.
Vários bairros da capital estão sem água potável e a rede elétrica funciona apenas algumas horas por semana.
A Tunísia protestou neste domingo pelo saque da residência de seu embaixador na cidade, cometido por "grupos armados".
Os violentos confrontos também aceleraram o êxodo na região de Darfur (oeste), uma das áreas mais afetadas pelo conflito.
Darfur é "alvo da violência", alertou a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF).
Os relatos de ataques em massa contra civis se multiplicam nessa região, de onde cerca de 149 mil pessoas fugiram para o Chade desde o início dos combates em 15 de abril, segundo dados da ONU.
Darfur, já devastada pela guerra civil no início dos anos 2000, caminha para um novo "desastre humanitário", alertou o secretário-geral adjunto da ONU para assuntos humanitários, Martin Griffiths, na quinta-feira.
* AFP