Ao menos oito pessoas morreram e 10 ficaram feridas no domingo (7) depois que foram atropeladas por um veículo na cidade de Brownsville, Texas, na fronteira com o México, diante de um centro de ajuda de migrantes.
As forças de segurança informaram que no momento o incidente é tratado como acidente, mas uma testemunha declarou que o motorista gritou insultos contra o grupo antes de acelerar o veículo.
— Recebemos uma ligação sobre uma SUV cinza que ultrapassou o sinal vermelho e atropelou várias pessoas. Confirmamos que sete pessoas morreram e outras foram levadas para o hospital — declarou o porta-voz da polícia da cidade de Brownsville, Martin Sandoval.
A imprensa local informou horas depois que uma pessoa não resistiu aos ferimentos e faleceu no hospital, o que eleva o número de vítimas fatais a oito.
O policial disse que as pessoas aguardavam em um ponto de ônibus quando foram atropeladas. Sandoval disse que algumas vítimas eram migrantes.
— O motorista do veículo foi detido, está sob custódia, mas o levamos para o hospital porque teve diversos ferimentos — afirmou o porta-voz.
O homem será processado por direção perigosa, mas também pode receber outras acusações, segundo a polícia.
Luis Herrera, venezuelano de 36 anos que ficou com um braço ferido, disse que o acidente aconteceu "de repente".
— Uma mulher passou de carro e nos avisou para sairmos do caminho — disse. — Foi uma questão de segundos. O assassino veio com o carro, gesticulando para nós, insultando, dizendo coisas como "motherfucker" (filho da puta), não sei, coisas assim que eu não entendo — contou.
— Ele acelerou e passou raspando por mim — acrescentou.
— Não estamos dizendo que é intencional. No momento, estamos tratando como um acidente — insistiu o porta-voz da polícia.
Título 42
O incidente ocorreu no momento em que governo dos Estados Unidos se prepara para suspender uma medida conhecida como "Título 42", que foi adotada durante a pandemia de covid-19 e permitiu que agentes das patrulhas de fronteira deportassem ou rejeitassem a entrada dos migrantes sem sequer examinar os pedidos de asilo.
O fim iminente da norma provoca o temor, entre as autoridades, de um aumento do número de migrantes que entram ilegalmente no sul dos Estados Unidos.
O centro de Brownswille registrou nas últimas semanas uma grande presença de migrantes, que são liberados no local depois que se entregam à patrulha de fronteira.
As vítimas do atropelamento estavam em um grupo de 25 pessoas que aguardavam em um ponto de ônibus, de acordo com Victor Maldonado, diretor executivo do Centro Ozanam, um refúgio para desabrigados que fica do outro lado da rua onde aconteceu o acidente.
O grupo, que segundo Maldonado era integrado apenas por venezuelanos, acabara de tomar café da manhã nas instalações. Ele descreveu uma cena aterrorizante, com partes de corpos ao longo da rua. As testemunhas ficaram "realmente em estado de choque", disse.
O centro para os moradores de rua permanece aberto as 24 horas do dia, explicou Maldonado. Ele disse que o local recebe pessoas que migraram do Chile, Colômbia, Equador, China, Ucrânia e Venezuela.
Ataque a tiros no sábado
No sábado (6), um homem abriu fogo em um shopping, também no Texas, matando oito pessoas e ferindo várias outras antes de ser morto por um policial que estava no local. O incidente ocorreu em um grande complexo comercial que estava lotado no fim de semana a 40 quilômetros ao norte de Dallas.
O tiroteio provocou cenas de pânico e as autoridades elogiaram a ação rápida do policial que neutralizou o atirador. Até o momento, a identidade do criminoso não foi divulgada.
O presidente Joe Biden foi informado sobre o tiroteio e o governador do Texas chamou a situação de "tragédia indescritível".
Com mais armas de fogo que habitantes, os Estados Unidos têm a maior taxa de mortes por armas de fogo de todos os países desenvolvidos: 49 mil em 2021, contra 45 mil no ano anterior. Desde o início de 2023, o país registrou mais de 199 tiroteios em massa.
Biden pede proibição de fuzis semiautomáticos
Após o ataque na cidade de Allen, ao sul do Texas, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu novamente ao Congresso que proíba os fuzis semiautomáticos.
Em imagens de câmeras de segurança, é possível ver o atirador saindo de um carro no estacionamento do shopping, usando equipamento paramilitar e portando um fuzil semiautomático similar ao AR-15.
Seis vítimas do ataque morreram no local e duas não resistiram aos ferimentos no hospital. Três dos sete feridos precisaram de cirurgias de emergência. Entre as vítimas estavam crianças, de acordo com um comunicado da Casa Branca.
O presidente Biden, que defende leis mais rigorosas para o porte de armas, criticou no domingo os "atos de violência sem sentido" no Texas e voltou a pedir ao Congresso que adote medidas.
Biden defende regras mais rigorosas para o porte de armas, incluindo a proibição de armas semiautomáticas e carregadores de alta capacidade, verificações universais de antecedentes e armazenamento seguro.
"Mais uma vez eu peço ao Congresso que me envie um projeto de lei para proibir as armas semiautomáticas e os carregadores de alta capacidade. Que determine verificações universais de antecedentes. Exija armazenamento seguro (das armas). Que acabe com a imunidade dos fabricantes de armas", afirmou Biden em um comunicado.
No entanto, é improvável que o apelo de Biden tenha sucesso, já que os republicanos, que controlam a Câmara de Representantes, são contrários às medidas de maior controle.
O governador do Texas, Greg Abbott, chamou o tiroteio de "tragédia indescritível".
Mas no domingo, enquanto os democratas reiteravam os pedidos para que o Congresso aprove uma legislação de segurança de armas e criticavam o Texas e outros Estados por suas leis permissivas, Abbott, um republicano, se recusou a afirmar se considera a possibilidade de restringir a venda de armas ou promulgar outras reformas.
— As pessoas querem uma solução rápida. A solução a longo prazo é abordar o problema da saúde mental — declarou Abbott ao canal Fox News. Ele também destacou que é necessário analisar o aumento da "raiva e da violência" no país.
O ataque em Allen foi o mais recente de uma onda de violência com armas de fogo nos Estados Unidos, com 199 tiroteios em massa registrados desde o início de 2023, de acordo com o Gun Violence Archive.