Ataques aéreos e disparos de artilharia sacudiram, neste sábado (20), a capital sudanesa, onde homens armados saquearam a embaixada do Catar, enquanto os generais em guerra mantiveram a disputa pelo controle do país, mesmo concordando com uma breve trégua humanitária.
Os lados em disputa fecharam um acordo de cessar-fogo de sete dias a partir da noite da próxima segunda, 22 de maio, informaram os Estados Unidos e a Arábia Saudita neste sábado em um comunicado conjunto após negociações em Jidá.
O cessar-fogo "permanecerá em vigor por sete dias e poderá ser prorrogado com o acordo de ambas as partes", acrescentaram.
Vários anúncios de cessar-fogo foram violados desde que os combates começaram no país, há cinco semanas, fato reconhecido pelo Ministério das Relações Exteriores saudita em um comunicado publicado pela agência de notícias estatal Saudita nas primeiras horas do domingo (noite de sábado no Brasil).
"Ao contrário das tréguas anteriores, o acordo alcançado em Jidá foi assinado pelas partes e será controlado por um mecanismo internacional de monitoramento de cessar-fogo, apoiado por Estados Unidos e Arábia Saudita", afirmou a pasta.
O texto informa que negociações posteriores "vão se concentrar nos passos necessários para melhorar a segurança e as condições humanitárias dos civis, como desmobilizar forças de centros urbanos, incluindo residências civis, acelerar a remoção de obstáculos à livre circulação de civis e atores humanitários e permitir que servidores públicos retomem suas funções regulares".
Os combates no país tiveram início em 15 de abril entre as tropas do comandante do Exército, Abdel Fattah al Burhan, e os soldados do general rival, Mohamed Hamdan Daglo, que lidera as paramilitares Forças de Apoio Rápido (FAR).
O conflito já deixou quase mil mortos, a maioria civis, e mais de um milhão de deslocados.
As Nações Unidas alertam para o rápido agravamento da crise humanitária que já castigava o país, onde antes da guerra uma a cada três pessoas dependia de ajuda humanitária.
O cessar-fogo deste sábado é anunciado duas semanas após representantes dos dois generais em conflito se reunirem em Jidá para negociações.
Em 11 de maio, eles assinaram um compromisso de respeitar princípios humanitários e permitir o envio da ajuda, tão necessária.
Mas o vice-secretário-geral de Ajuda Humanitária da ONU, Martin Griffiths, disse à AFP na quinta-feira que houve violações "importantes e flagrantes" desse acordo, que ficou aquém de um cessar-fogo.
- Pressão por negociações -
Na sexta-feira, Burhan afastou Daglo, atribuindo seu cargo de vice-presidente do Conselho de Soberania ao ex-líder rebelde Malik Agar, e nomeou três aliados para cargos importantes no Exército.
Ex-líder rebelde que assinou um acordo de paz com autoridades de Cartum em 2020, Agar disse no sábado que estava determinado a tentar "pôr fim à guerra" e pressionar por negociações.
Ele também se dirigiu diretamente a Daglo, dizendo que a "estabilidade do Sudão só pode ser restabelecida por um exército profissional e unificado".
A integração das FAR às forças regulares tem sido o principal ponto de discórdia entre Daglo e Burhan.
As FAR, cujas origens remontam à conhecida milícia Janjaweed, recrutada no início dos anos 2000 para desmobilizar uma rebelião de grupos étnicos minoritários em Darfur, agem rapidamente, mas têm a reputação de serem indisciplinadas.
Seus combatentes foram acusados de arrombamentos generalizados e saques, inclusive em missões diplomáticas e escritórios de grupos de ajuda humanitária.
Neste sábado, a embaixada do Catar foi a última missão diplomática atacada, gerando críticas em Doha.
"O pessoal da embaixada foi evacuado previamente e nenhum dos diplomatas ou funcionários sofreram qualquer dano", afirmou o governo catari.
E renovou os pedidos "um cessar imediato dos combates".
O Catar não mencionou especificamente as FAR de Daglo como responsáveis, mas uma declaração de autoridades pró-Burhan culparam diretamente os paramilitares.
As embaixadas de Jordânia, Arábia Saudita e Turquia também sofreram ataques nas últimas semanas.
* AFP