"É como voltar para casa". O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, aproveitou, nesta quarta-feira (12), a primeira etapa de uma viagem à terra de seus ancestrais irlandeses, depois de uma mensagem mais política em sua passagem pela Irlanda do Norte.
Tomando a palavra em um pub da cidade de Dundalk, no nordeste da República da Irlanda, o mandatário de 80 anos abriu o coração: "quando você está aqui, se pergunta por que partir".
Referia-se assim a seus ancestrais por parte de mãe, que fugiram da fome na Irlanda no século XIX.
"É maravilhoso. É como voltar para casa", acrescentou o político democrata e católico, ao visitar sob chuva um castelo da região.
Em seguida, o presidente americano aproveitou para confraternizar com os locais que desafiaram o mau tempo para vê-lo, conversando, dando apertos de mãos e posando para fotos.
O acolhimento de Biden na República da Irlanda contrasta com o clima mais tenso com o qual ele se deparou esta manhã em Belfast, a capital da província britânica da Irlanda do Norte.
O líder democrata esteve por um curto período na cidade para celebrar os 25 anos do acordo de paz de 1998, que pôs fim a três décadas de conflito entre os nacionalistas pró-irlandeses, majoritariamente católicos e favoráveis à reunificação, e os unionistas pró-britânicos, principalmente protestantes e que desejavam a permanência no Reino Unido.
Em um discurso na Universidade de Belfast, Biden pediu nesta quarta que as partes chegassem a um acordo pelo fim do bloqueio político das instituições norte-irlandesas.
"Espero que o Executivo e a Assembleia [da Irlanda do Norte] sejam restabelecidos em breve", afirmou Biden, pedindo aos líderes dos principais partidos locais que retomem o governo, bloqueado desde fevereiro do ano passado, devido às consequências do Brexit.
O presidente americano também afirmou que manter a paz duramente conquistada há duas décadas e meia é uma "prioridade" para os Estados Unidos.
A violência do conflito norte-irlandês deixou 3.500 mortos e algumas feridas permanecem abertas, como demonstrou na segunda-feira um incidente na cidade fronteiriça de Londonberry, onde jovens encapuzados lançaram bombas incendiárias contra viaturas da polícia.
Outra prova das profundas divisões: as instituições autônomas, onde republicanos e unionistas devem compartilhar o poder com base no acordo de 1998, estão bloqueadas, porque o Partido Unionista Democrático (DUP), o principal partido pró-britânico, nega-se a participar do governo.
- 'Antibritânico' -
Biden também se reuniu nesta quarta-feira com o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, que declarou que as relações entre Reino Unido e Estados Unidos estão em "grande forma".
Mas alguns líderes do DUP não pensam da mesma maneira e criticaram a visita do presidente democrata.
Para o deputado Sammy Wilson, do DUP, Biden é "antibritânico" e apoiou a União Europeia (UE) nas negociações pós-Brexit.
"Qualquer pressão de uma administração americana tão claramente pró-nacionalista não constitui nenhuma pressão para nós", acrescentou outro membro do partido unionista, Nigel Dodds.
"As atividades passadas do presidente mostram que ele não é antibritânico", embora tenha "orgulho" de suas origens irlandesas, afirmou Amanda Sloat, conselheira do presidente democrata.
- Origem irlandesa -
O democrata, que também visitou a Irlanda como vice-presidente de Barack Obama, afirma com orgulho que é descendente de irlandeses que buscaram uma vida melhor nos Estados Unidos no século XIX.
Amanhã, sua visita terá um olhar mais institucional, com um discurso previsto diante das duas câmaras do Parlamento em Dublin.
Na sexta, a viagem terá novamente um tom mais pessoal, pois o presidente americano vai visitar outro lugar de procedência de seus ancestrais irlandeses, a localidade de Ballina, no oeste do país.
A visita também exibe uma mensagem sobre a intenção de Biden de disputar a reeleição em 2024: demonstrar para uma classe média desmoralizada que o "sonho americano" não morreu, ao se apresentar como descendente de uma família modesta e trabalhadora.
* AFP