Constant chegou cedo à embaixada da Costa do Marfim na Tunísia para pedir sua repatriação, depois de uma onda de prisões e da diatribe do presidente tunisiano, Kais Saied, contra os migrantes subsaarianos. "Queremos voltar para casa", afirmou, resignado.
Durante duas horas, dezenas de táxis chegavam e saíam da missão diplomática com pessoas que esperavam que o governo marfinense organizasse voos de repatriação o mais breve possível.
Três jovens saíram de um carro dirigido por uma elegante tunisiana. "São funcionárias do meu salão de beleza há dois anos. Estou acompanhando-as para que se inscrevam para sair da Tunísia, onde já não se sentem seguras", explicou ela à AFP, sob condição de anonimato.
Para Abubacar Dobe, diretor da emissora Radio Libre Francophone - um meio de comunicação comunitário africano -, "é evidente que existe uma diferença entre o antes e o depois do discurso" do presidente Saied.
Na terça-feira, o presidente tunisiano anunciou "medidas urgentes" contra a imigração ilegal subsaariana em seu país, denunciando a chegada de "hordas de clandestinos" e "um empreendimento criminoso para mudar a composição demográfica" da Tunísia.
A União Africana condenou suas declarações na sexta-feira, e pediu a seus Estados-membros que "se abstenham de todo discurso de ódio de caráter racista que possa prejudicar as pessoas".
Neste sábado (25), centenas de pessoas se reuniram na capital Tunes para protestar contra o discurso presidencial, tachado de "racista", e exigindo que o chefe de Estado peça perdão à comunidade subsaariana.
Sem trabalho há seis meses, Constant criou um grupo de WhatsApp para migrantes que querem retornar. Muitos denunciaram que estão sendo submetidos a assédio e violência em Tunes e Sfax, cidade de onde dezenas de migrantes em situação irregular costumam partir para a Europa.
Os locadores de residências "estão nos colocando para fora, nos agredindo e maltratando. Para maior segurança, preferimos vir à nossa embaixada para nos inscrevermos para voltar", contou Wilfrid Badia, de 34 anos, que vive de fazer bicos há seis anos.
Para Jean Bedel Gnabli, vice-presidente do comitê de líderes subsaarianos, está havendo uma "psicose dentro da comunidade", que também inclui senegaleses, guineanos, congoleses e comorenses.
Desde a quarta-feira, a associação de estudantes subsaarianos AESAT recomenda que seus membros "não saiam nem sequer para frequentar as aulas, até que as autoridades garantam proteção efetiva contra esses deslizes e ataques".
"Quando era apenas o Partido Nacionalista Tunisiano [abertamente racista] ou as redes sociais, as pessoas acreditavam que o Estado as protegeria. Agora, no entanto, sentem-se abandonadas", explica Abubacar Dobe, que acrescenta que também foi alvo de ameaças telefônicas.
* AFP