George Santos foi o primeiro deputado republicano abertamente gay eleito nos Estados Unidos. Trumpista, ele sempre disse ser filho de brasileiros e se vendeu aos eleitores como a encarnação do sonho americano: um filho de imigrantes que "saiu do nada", estudou em uma faculdade pública de Nova York para se tornar um "financista e investidor experiente de Wall Street".
Mas uma reportagem investigativa do jornal The New York Times revelou que partes importantes do currículo e da biografia de Santos vendidos aos eleitores são incompletos ou falsos.
O Citigroup e o Goldman Sachs, as firmas de destaque na biografia da campanha de Santos, disseram ao Times que não tinham registro de que ele trabalhou lá. Funcionários do Baruch College, onde Santos disse ter se formado em 2010, não conseguiram encontrar nenhum registro de alguém com seu nome. Também havia poucas evidências de que seu grupo de resgate de animais, Friends of Pets United, fosse, como afirmou o deputado, uma organização isenta de impostos.
Enquanto Santos descreveu uma fortuna familiar no setor imobiliário, ele não revelou, nem o Times encontrou, registros de suas propriedades.
Sua aparição no início deste mês em uma festa de gala em Manhattan, com a presença de nacionalistas brancos e teóricos da conspiração de direita, destacou seus laços com a base do ex-presidente Donald Trump. Ele era próximo de políticos conservadores do Brasil. Em fevereiro de 2020, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) se encontrou com ele.
A vitória de Santos, por oito pontos, em um distrito no norte de Long Island e no nordeste do Queens que antes favorecia os democratas, foi considerada uma reviravolta. Mas revelações do Times - incluindo a omissão de informações sobre as divulgações financeiras pessoais e acusações criminais por fraude de cheques no Brasil - têm o potencial de criar desafios éticos e possivelmente legais quando ele assumir.
Santos não respondeu aos repetidos pedidos do jornal norte-americano para que fornecesse documentos que ajudariam a comprovar as alegações que fez durante a campanha. Ele também rejeitou ser entrevistado.
Raízes no Brasil
O deputado republicano diz que seus pais emigraram do Brasil para os EUA e que nasceu no bairro do Queens. Seu pai, ele disse, é católico e tem raízes em Angola. Sua mãe, Fatima Devolder, era descendente de migrantes que fugiram da perseguição aos judeus na Ucrânia e da Segunda Guerra na Bélgica. Santos se descreveu como um judeu não praticante, mas também disse que é católico.
Os registros mostram que a mãe de Santos, que morreu em 2016, morou por um tempo em Niterói, no Rio de Janeiro, onde trabalhava como enfermeira. O deputado também passou algum tempo lá. Em 2008, quando tinha 19 anos, roubou um talão de cheques de um homem de quem sua mãe cuidava, segundo o New York Times.
Registros policiais e judiciais mostram que Santos usou o talão para fazer compras fraudulentas. Dois anos depois, o parlamentar confessou o crime e foi acusado na Justiça. O tribunal e o promotor local no Brasil confirmaram que o caso continua sem solução.