O capitão Ibrahim Traoré, que liderou um golpe de Estado em Burkina Faso na última sexta-feira, foi nomeado hoje oficialmente presidente do país africano, à espera da designação de um presidente de transição para um governo civil.
Traoré foi nomeado "chefe de Estado, chefe supremo das Forças Armadas", segundo o comunicado oficial lido na TV pelo porta-voz do governista Movimento Patriótico pela Salvaguarda e Restauração, capitão Kiswendsida Farouk Azaria Sorgho.
O país empobrecido do Sahel, que enfrenta há sete anos uma rebelião jihadista que causou milhares de mortes e 2 milhões de deslocados, sofreu dois golpes de Estado em oito meses.
No último fim de semana, Traoré, à frente de uma facção de jovens oficiais descontentes, depôs o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, que havia tomado o poder do presidente eleito Roch Marc Christian Kaboré em janeiro. Damiba fugiu para o Togo dois dias depois da rebelião, que foi criticada por líderes religiosos e comunitários.
A declaração lida na TV intitulava-se Ato Fundamental e completará a Constituição de Burkina Faso, suspensa na sexta-feira, que será restabelecida, exceto nas disposições contrárias ao novo texto. "À espera da implementação de órgãos de transição", Traoré será "garantidor da independência nacional, integridade territorial, permanência e continuidade do Estado", indicou.
- Promessa de eleições em 2024 -
Aos 34 anos, Traoré se torna o chefe de Estado mais jovem do mundo. O capitão justificou seu golpe pela "degradação contínua da situação da segurança" sob seu antecessor.
Os ataques regulares de grupos armados ligados à Al-Qaeda e ao grupo Estado Islâmico causaram milhares de mortes e provocaram o deslocamento de cerca de 2 milhões de pessoas. Além disso, uma parte importante do território escapa do controle do Estado, principalmente perto das fronteiras com Mali e Níger, países que também enfrentam a violência jihadista.
Traoré recebeu ontem uma delegação da Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao), que também se reuniu com líderes religiosos e tradicionais.
O golpe coincidiu com protestos violentos contra a França, nos quais manifestantes agitaram bandeiras russas, o que alimentou especulações de que Traore poderia seguir os passos de outros regimes de países francófonos da África e aprofundar seus laços com a Rússia.
Os Estados Unidos alertaram ontem a junta militar de Burkina Faso para os riscos de uma aliança com a Rússia, cujo grupo paramilitar Wagner expressou apoio ao último golpe militar no país africano. "Os países onde o grupo atuou estão mais fracos e menos seguros, e na África vimos isso em vários casos", disse o porta-voz do Departamento de Estado americano, Vedant Patel.
"Condenamos qualquer tentativa de exacerbar a situação atual em Burkina Faso e encorajamos encarecidamente o novo governo de transição a se ajustar ao calendário acordado para voltar a um governo civil eleito democraticamente", acrescentou Patel.
O novo líder disse anteriormente que manterá o calendário previsto por Damiba para retornar a um governo civil até julho de 2024.
* AFP