A Rússia se prepara para anunciar a anexação de áreas do leste e do sul da Ucrânia, mas em Kupiansk as tropas ucranianas continuam afastando o adversário, ameaçando inclusive os eixos de abastecimento. Na quinta-feira (30), ocorria uma operação que prossegue com a retomada da cidade de Kupiansk, às margens do Rio Oskil.
Moscou pretende incorporar nesta sexta-feira quatro regiões da Ucrânia, mas a de Kharkiv, um dos primeiros objetivos da invasão, continua resistindo às ações do Kremlin, cujas tropas foram obrigadas a recuar após a contraofensiva de Kiev no início de setembro.
Tanques e blindados ucranianos operavam com liberdade pela cidade industrial de Kupiansk, que há poucas semanas era um ponto central da logística russa.
A cidade tem uma ponte, atualmente muito danificada, que atravessa o Rio Oskil e uma linha ferroviária utilizada para abastecer as tropas russas.
— Este é um importante centro ferroviário que se conecta à região de Lugansk e, depois, com a rede ferroviária russa — disse o novo comandante militar ucraniano de Kupiansk, Andriy Kanashevych.
— Então, obviamente, em termos de logística e de abastecimento, era importante que eles controlassem — acrescentou.
As forças russas tentaram manter o controle de Kupiansk, apesar do colapso de sua frente de batalha nas proximidades de Kharkiv e de sua retirada catastrófica pelo nordeste da Ucrânia, deixando um rastro de tanques destruídos.
Em 19 de setembro, a margem oeste já estava sob controle dos ucranianos, mas a margem leste era cenário de combates violentos. Na quinta-feira (29), pela primeira vez, a segurança em Kupiansk era considerada suficiente para permitir a distribuição de comida à população.
A batalha na cidade provocou cortes de água e de energia elétrica. Muitos civis fugiram, o que deixou Kupiansk com entre 10% e 15% da população que tinha antes da guerra (27 mil habitantes), segundo Kanashevych. Os civis estão apenas começando a sair às ruas.
— Foi realmente muito difícil. Estávamos aterrorizados... sem água, sem eletricidade, sem gás, sem conexão com a internet — disse Liudmila Nagaitseva, de 52 anos.
A rapidez com que Kupiansk caiu nos primeiros dias da invasão, em fevereiro, alimentou suspeitas de que parte da população de língua russa da região estava favorável a Moscou.
No entanto, a maioria dos moradores parecia aliviada com a libertação da cidade pelas tropas ucranianas. Maxim Korolevski, um empresário de 30 anos, disse que a cidade foi traída.
Ele afirmou que 200 garotos da região se apresentaram ao centro de recrutamento no primeiro dia da invasão russa, 24 de fevereiro, e foram informados para retornar no dia seguinte.
— Mas em 25 de fevereiro, os tanques russos com suas bandeiras e seus soldados já estavam aqui. O que poderíamos fazer? Nada — afirmou, antes de acusar o ex-prefeito da cidade, Guennadi Matsegora, considerado pró-Moscou.
— Qualquer opinião pró-Ucrânia era punida pela Rússia. Sete meses de ocupação que foram como uma prisão — recordou, ao mencionar operações de busca e ameaça.
Os soldados russos e suas bandeiras deixaram Kupiansk, mas as marcas permanecem visíveis em alguns pontos, como o símbolo "Z", pintado em veículos destruídos. E alguns corpos permanecem ao lado dos automóveis.