O candidato do partido de oposição angolano UNITA rejeitou nesta sexta-feira (26) os resultados parciais das eleições desta semana, que dão vitória ao MPLA, que está no poder no país africano desde 1975.
"A UNITA não reconhece os resultados provisórios divulgados pela CNE [Comissão Nacional Eleitoral]", disse o líder do partido e candidato à presidência, Adalberto Costa Júnior, em coletiva de imprensa em Luanda.
Após a apuração de 97% dos votos, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), do atual presidente João Lourenço, somava 51,07% dos votos, contra 44,05% da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), de Costa Júnior.
O líder opositor pediu uma revisão internacional da apuração, alegando a existência de discrepâncias entre os resultados oficiais e a apuração paralela feita por seu próprio partido.
"Não existe a menor dúvida em afirmar, com toda a segurança, que o MPLA não ganhou as eleições do dia 24 de agosto", declarou Costa Júnior, de 60 anos, diante de uma multidão de entusiastas de seu partido.
Destas eleições, as mais disputadas na ex-colônia portuguesa independente desde 1975, deve surgir um novo Parlamento e o líder do partido vencedor será investido como chefe de Estado.
Se a tendência marcada pelos resultados provisórios oficiais for confirmada, João Lourenço, de 68 anos, obterá um segundo mandato e prolongará a permanência do MPLA no poder do país lusófono, apesar de seu desgaste em tempos recentes por conta da crise econômica e das denúncias de corrupção.
"O MPLA ganha com uma maioria absoluta suficiente para governar tranquilamente os próximos cinco anos, julgo que os resultados provisórios não poderão alterar grande coisa", disse aos jornalistas o porta-voz do MPLA, Rui Falcão.
Diante da contestação dos resultados, o analista Alex Vines, do centro de estudos Chatam House, com sede em Londres, prevê "muitos meses de turbulência política".
Partidos opositores e organizações civis suscitaram temores de fraude, devido à posição tradicionalmente dominante do MPLA nas instâncias eleitorais e na imprensa estatal.
Observadores da União Africana (UA) e da Comunidade de Desenvolvimento da África do Sul (SADC, na sigla em inglês) expressaram preocupação pela falta de pessoal de controle, pela elaboração das listas eleitorais e por notícias enviesadas na emissora pública de televisão.
- Erosão da imagem do MPLA -
A campanha eleitoral esteve dominada pelos muitos problemas de Angola, como a inflação, a pobreza e a seca.
O MPLA, identificado durante décadas com a luta pela independência, viu sua imagem corroída pela corrupção que imperou durante a longa presidência de seu líder histórico, José Eduardo dos Santos (1979-2017).
O ex-presidente, que faleceu em julho na Espanha e cujos restos mortais foram repatriados para Angola no último sábado, foi acusado de desviar bilhões de dólares em proveito de familiares e pessoas próximas.
Em 2012, o MPLA obteve 71,84% dos votos e, em 2017, 61%. Os resultados das eleições deste ano mostram que a erosão de sua popularidade aumentou em tempos recentes.
* AFP