A promotoria do Estado de Nova York acusou neste sábado (13) Hadi Matar, suspeito de esfaquear Salman Rushdie, de premeditar o crime. O escritor, que durante a Revolução Islâmica do Irã foi jurado de morte pelo aiatolá Khomeini, foi atacado ao menos dez vezes em um evento literário na sexta-feira (12).
O autor do ataque, um homem de 24 anos de origem libanesa e morador de Nova Jersey, compareceu no sábado a uma audiência de custódia num tribunal em Mayville, em Nova York. Ele foi indiciado por tentativa de homicídio duplamente qualificada.
Hadi Matar usava um macacão listrado, algemas e sapatos cor de laranja brilhantes, mas não deu declarações ao juiz. Nathaniel Barone, seu defensor público, entrou com uma declaração de inocência em seu nome. Matar foi detido sem fiança e sua próxima audiência no tribunal foi marcada para o dia 19 de agosto, às 15h.
Conforme o jornal The Guardian, o agente do escritor, Andrew Wylie, informou na noite de sábado que Rushdie já respirava sem aparelhos e que estava conversando. Antes disso, o agente havia explicado que o estado de saúde do autor era grave, já que tinha risco de perder um olho, o fígado havia sido danificado e os nervos de seu braço, cortados.
A polícia do Estado de Nova York disse em uma entrevista coletiva na tarde de sexta-feira que não havia indicação de um motivo para o ataque, mas que eles estavam trabalhando com o FBI nas investigações.
Informações preliminares indicam que a família de Matar vem de Yaroun, uma cidade no sul do Líbano. Moradores da cidade disseram que os pais de Matar são divorciados e que seu pai, um pastor, ainda mora lá. Jornalistas que tentaram se aproximar dele foram expulsos. Matar nasceu e cresceu nos Estados Unidos.
Reação
No Irã, o ataque ao escritor foi recebido com júbilo entre religiosos xiitas.
— Fiquei muito feliz em ouvir a notícia — disse Mehrab Bigdeli, um homem de 50 anos que estuda para se tornar um clérigo muçulmano.
A mensagem foi semelhante na mídia conservadora do Irã. Um dos jornais conservadores disse que o "pescoço do demônio" havia sido cortado por uma faca.
Rushdie ganhou fama internacional em 1981 com seu segundo romance, Os Filhos da Meia-Noite. A obra, que retrata a vida na Índia após a independência, rendeu-lhe o prestigioso prêmio britânico Booker.
A vida de Rushdie mudou completamente depois da publicação de Versos Satânicos, em 1988. Os muçulmanos ficaram furiosos com a obra, que eles consideraram uma blasfêmia. O aiatolá Khomeini ordenou a morte do escritor, e Rushdie passou quase uma década escondido, durante a qual nem seus filhos sabiam onde morava.
Mesmo com a ameaça constante diminuindo aos poucos a partir do final da década de 1990, os eventos literários a que Rushdie comparecia eram sujeitos a ameaças ou boicotes.
Sua nomeação como cavaleiro da rainha Elizabeth II em 2007 gerou uma onda de protestos no Irã e no Paquistão, cujo ministro chegou a considerar que seria uma honra matá-lo em um ato suicida.
Desde que se mudou para Nova York, Rushdie tem sido um defensor da liberdade de expressão, especialmente depois que um ataque de islâmicos em 2015 dizimou a equipe da revista Charlie Hebdo em Paris.
O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, condenou o ataque:
— Em nenhum caso a violência é uma resposta a palavras ditas ou escritas por outros no exercício das liberdades de opinião e expressão.