O parlamento do Sri Lanka votará nesta quarta-feira (20) para eleger o presidente para substituir Gotabaya Rajapaksa, que fugiu para o exterior depois que manifestantes invadiram sua residência em meio a uma grave crise econômica.
O vencedor da disputa entre três aspirantes assumirá o comando de um país falido que negocia um plano de resgate com o Fundo Monetário Internacional (FMI), e cujos 22 milhões de habitantes enfrentam séria escassez de alimentos, combustíveis e remédios.
Analistas dizem que o favorito é Ranil Wickremesinghe, um ex-primeiro-ministro que se tornou presidente em exercício depois que Rajapaksa deixou o cargo. Sua candidatura é rejeitada por manifestantes que o consideram um aliado do último presidente.
Meses de protestos contra uma crise econômica sem precedentes culminaram na renúncia de Rajapaksa, anunciada na semana passada de Cingapura.
Sua saída foi um golpe para um clã outrora poderoso que dominou a vida política do Sri Lanka por décadas, depois que seus irmãos renunciaram meses atrás como primeiro-ministro e ministro das Finanças.
Wickremesinghe, 73, tem o apoio do SLPP de Rajapaksa, o maior partido do parlamento de 225 assentos, para a votação secreta desta quarta-feira.
Como presidente em exercício, Wickremesinghe prolongou um estado de emergência que dá amplos poderes às forças de segurança e, na semana passada, enviou soldados para expulsar manifestantes que ocupavam prédios públicos.
Um legislador da oposição observou que a linha dura de Wickremesinghe contra os manifestantes foi bem recebida pelos legisladores afetados pela violência dos protestos, e que a maioria dos representantes do SLPP o apoiaria.
"Ranil está se preparando para ser um candidato da lei e da ordem", disse à AFP o parlamentar tâmil Dharmalingam Sithadthan.
O analista político Kusal Perera concordou que Wickremesinghe chega com "ligeira vantagem" à votação legislativa de quarta-feira.
"Ranil recuperou a aceitação da classe média urbana ao restaurar alguns de seus suprimentos, como o gás, e liberou prédios do governo mostrando firmeza", disse Perera.
Em intenso lobby na noite desta terça-feira, dois pequenos partidos apoiaram o principal rival de Wickremesinghe, e o resultado da votação deverá ser apertado.
Observadores acreditam que Wickremesinghe reprimirá duramente se os manifestantes, que exigiram sua renúncia, acusando-o de proteger os interesses de Rajapaksa, retornarem às ruas.
O ex-presidente Mahinda Rajapaksa, irmão mais velho de Gotabaya e líder do clã que dominou a vida política do Sri Lanka por anos, permanece no país e fontes de seu partido dizem que ele pressionou os legisladores do SLPP para apoiar Wickremesinghe.
- Governo de consenso -
Seu principal rival será o dissidente do SLPP e ex-ministro da Educação Dullas Alahapperuma, ex-jornalista apoiado pela oposição.
Alahapperuma, de 63 anos, prometeu esta semana formar "um verdadeiro governo de consenso pela primeira vez em nossa história".
O terceiro candidato é Anura Dissanayake, 53, líder da Frente Popular de Libertação, de esquerda, cuja coalizão tem três cadeiras legislativas.
Os legisladores classificarão os candidatos em ordem de preferência em uma votação secreta, um mecanismo que lhes dá mais liberdade do que um sistema aberto.
Os candidatos precisam de mais da metade dos votos para serem eleitos. Se não for o caso, o candidato com menos votos será eliminado e seus votos serão distribuídos com base na segunda preferência.
O novo governante assumirá o cargo pelo restante do mandato de Rajapaksa, que terminaria em novembro de 2024.
* AFP