Manifestantes contrários ao governo do Sri Lanka desafiaram nesta quarta-feira (13) as bombas de gás lacrimogêneo, os jatos d'água e a decretação do estado de emergência e invadiram o gabinete do primeiro-ministro, após a fuga do país, horas antes, do presidente, Gotabaya Rajapaksa.
Os manifestantes exigem que o premiê Ranil Wickremesinghe renuncie, ao mesmo tempo que Rajapaksa, que prometeu anunciar sua saída oficial nesta quarta-feira, depois de ser encurralado pela crise econômica e política mais grave da história desta ilha que fica ao sul da Índia. Após a meia-noite, no entanto, Rajapaksa ainda não havia anunciado sua demissão, portanto ainda goza de imunidade presidencial.
Um grupo de homens e mulheres rompeu a barreira imposta por militares e invadiu o gabinete do primeiro-ministro com bandeiras do país, informaram testemunhas à AFP. Um dos participantes dos protestos morreu asfixiado pelo gás lacrimogêneo, segundo a polícia.
Manifestantes também invadiram a sede do principal canal de TV público do Sri Lanka, o Rupavahini, e apareceram por alguns minutos no ar.
Wickremesinghe, nomeado presidente interino, pediu ao Exército e à polícia que "façam o necessário para restabelecer a ordem", em um discurso exibido na TV. "Os manifestantes querem impedir que eu cumpra minhas responsabilidades como presidente interino. Não podemos permitir que os fascistas tomem o controle", disse.
A Constituição prevê, em caso renúncia do presidente - o que Rajapaksa prometeu fazer durante o dia -, que o primeiro-ministro assuma o cargo de maneira interina até a eleição, pelo Parlamento, de um deputado para exercer a função de chefe de Estado até o fim do mandato em curso, novembro de 2024.
- Uma fuga difícil -
Rajapaksa, 73 anos, sua mulher e um guarda-costas deixaram o país a bordo de um avião Antonov-32, que decolou do aeroporto internacional de Colombo, afirmaram autoridades da imigração à AFP.
Uma fonte do aeroporto de Male, capital das Maldivas, confirmou à AFP a chegada do presidente cingalês, que foi levado para um local não revelado do arquipélago, localizado a sudeste do Sri Lanka. O avião ficou mais de uma hora na pista sem poder decolar, após uma confusão sobre a permissão para pousar nas Maldivas.
A saída do presidente do Sri Lanka foi complicada. Ontem, em outra tentativa de deixar o país, ele foi rejeitado de forma humilhante pelos agentes de imigração no aeroporto de Colombo. Funcionários do serviço de imigração negaram acesso à sala VIP para carimbar seu passaporte. Rajapaksa queria evitar o terminal público por medo da reação dos cingaleses.
O chefe de Estado e a mulher passaram a noite anterior à viagem em uma base militar próxima do aeroporto, depois que perderam quatro voos com destino aos Emirados Árabes Unidos.
Seu irmão Basil, que pediu demissão em abril do cargo de ministro das Finanças, também não conseguiu embarcar em um avião com destino a Dubai.
Na fuga, o presidente deixou para trás uma mala repleta de documentos e 17,85 milhões de rupias (50.000 dólares), que foram entregues às autoridades.
- Festejos -
A multidão continuava hoje se aglomerando no palácio presidencial, em uma atmosfera festiva. "A população está muito feliz, porque essas pessoas roubaram o nosso país", disse o funcionário público Kingsley Samarakoon, 74, que não tem muita esperança na capacidade do Sri Lanka de sair rapidamente da crise: "Como irão dirigir o país sem dinheiro? É um problema."
Rajapaksa é acusado de má gestão da economia, o que levou o país a um cenário de caos e uma crise profunda por falta de divisas, o que torna impossível financiar as importações de produtos essenciais para a população de 22 milhões de habitantes.
O Sri Lanka declarou moratória da dívida de 51 bilhões de dólares em abril e está em negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para receber um empréstimo. Além disso, o país quase esgotou suas reservas de combustível e o governo ordenou o fechamento das administrações não essenciais e das escolas para reduzir os deslocamentos.
* AFP