Os eleitores do Cazaquistão aprovaram em um referendo a reforma constitucional que acaba com a era do ex-presidente Nursultan Nazarbayev, no poder durante três décadas, encerrando um capítulo após os violentos distúrbios de janeiro.
"O referendo pode ser considerado válido", declarou nesta segunda-feira o presidente da Comissão Eleitoral Central, Nurlan Abdirov, ao anunciar que na votação de domingo 77% dos eleitores optaram pela nova Constituição.
Ele também destacou que a o índice de participação no referendo foi superior a 68%.
A ex-república soviética da Ásia Central, rica em minerais e hidrocarbonetos, registrou em janeiro violentos distúrbios que deixaram mais de 230 mortos.
Os incidentes, os mais graves desde a independência em 1991, começaram com manifestações pacíficas contra o aumento dos preços dos combustíveis e passaram a confrontos entre civis e as forças de segurança, uma situação que levou as autoridades a pedir a intervenção das tropas russas.
- Um "Novo Cazaquistão" -
Após os incidentes, o atual presidente cazaque, Kassym Jomart Tokayev, considerado até então um fiel seguidor do legado de Nazarbayev, passou a defender um "Novo Cazaquistão" e no mês passado convocou o referendo de reforma da Constituição.
De acordo com o atual chefe de Estado, que foi designado como sucessor por Nazarbayev em 2019, o referendo significa deixar para trás um mandato "superpresidencial" e retira importantes privilégios de seu antecessor e da família.
Depois de deixar a presidência, Nazarbayev, de 81 anos, ostentava o título de "Elbasy", ou "Chefe da Nação Cazaque", um status que concedia uma autoridade considerável e que será retirado com a reforma constitucional.
"Podemos garantir que a era do 'Elbasy' terminou", declarou à AFP o analista político Gaziz Abishev.
Outra emenda estabelece que os parentes dos líderes não podem ocupar funções governamentais importantes, uma medida direcionada à família de Nazarbayev, que perdeu cargos importantes após os episódios de violência.
As causas exatas dos distúrbios de janeiro não foram esclarecidas. A violência destruiu o centro da cidade de Almaty, a mais populosa do país, mas não afetou Nur-Sultan, que era conhecida como Astana até 2019 e mudou de nome em homenagem a Nazarbayev.
A detenção em 8 de janeiro de uma figura próxima a Nazarbayev, Karim Massimov, que na época era o diretor do Conselho de Segurança Nacional, alimentou especulações sobre uma disputa de poder.
Tokayev atribuiu a violência a "terroristas" que tentavam tomar o poder e emitiu uma ordem às tropas para "atirar e matar".
Tanto o ex-líder como seu sucessor são grandes aliados da Rússia. A intervenção de 2.000 soldados de uma aliança de segurança liderada por Moscou permitiu a Tokayev retomar o controle do país.
O Kremlin afirmou que suas tropas atuaram a pedido de Tokayev e que a mobilização não atingiu o nível político, pois este era um "assunto interno do Cazaquistão".
* AFP