As novas autoridades da região separatista pró-russa da Ossétia do Sul, na Geórgia, anunciaram nesta segunda-feira (30) que cancelaram a organização de um referendo sobre sua integração à Federação da Rússia.
Em um decreto, o presidente do enclave Alan Gagloev invocou "a incerteza relacionada com as consequências legais" de uma consulta desse tipo, que foi decidida por seu antecessor, Anatoly Bibilov, e deveria acontecer em 17 de julho.
O decreto prevê também "a inadmissibilidade de uma decisão unilateral de um referendo sobre temas que afetam os legítimos direitos e interesses da Federação da Rússia".
Gagloev ordenou "manter, sem demora, consultas com a parte russa sobre toda a gama de temas relacionados com a maior integração entre a Ossétia do Sul e a Federação da Rússia".
Em 13 de maio, Bibilov assinou o decreto para celebrar o referendo, citando as "aspirações históricas" da região para se juntar à Rússia.
A Ossétia do Sul foi o centro de uma guerra entre Rússia e Geórgia em 2008, após a qual o Kremlin reconheceu o território, junto com a região separatista da Abkházia, como estado independente. As duas regiões seguem sob controle militar russo.
Bibilov perdeu a reeleição semanas atrás, e a Rússia disse esperar que Gagloev continue a aproximação com Moscou.
- Crimes de guerra -
O anúncio desta segunda-feira acontece em meio à invasão russa da Ucrânia, onde os separatistas pró-Rússia nas regiões de Donetsk e Luhansk expressaram interesse em se unir à Rússia.
Por outro lado, a guerra na Ucrânia gerou demonstrações de solidariedade na Geórgia. Além disso, Tbilisi denunciara como "inaceitáveis" os planos da Ossétia do Sul de realizar o referendo de integração à Federação da Rússia.
Em agosto de 2008, as forças russas invadiram a Geórgia, que então enfrentava uma milícia pró-Rússia na Ossétia do Sul.
Os confrontos terminaram cinco dias depois com uma trégua mediada pela União Europeia, após deixar mais de 700 mortos e dezenas de milhares de deslocados.
O conflito marcou o ápice das tensões com o Kremlin sobre os planos de Tbilisi de se juntar à União Europeia e à Otan.
Em março, o procurador-geral da Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, em Haia, pediu ordens de prisão para três integrantes do alto escalão da Ossétia do Sul, atuais e passados, por crimes cometidos contra a população de Geórgia.
Os supostos crimes incluem tortura, tratamento desumano, detenção ilegal, violação da dignidade pessoal, tomada de reféns e transferência ilegal de pessoas.
No ano passado, a Corte Europeia de Direitos Humanos determinou que a Rússia é responsável de abusos de direitos humanos depois da guerra.
* AFP