O ministério da Defesa russo anunciou nesta quinta-feira (14) que o cruzador Moskva, navio-símbolo da frota russa no Mar Negro, afundou. A embarcação foi utilizada em ofensiva contra a Ucrânia. As autoridades ucranianas afirmaram que atingiram o navio com mísseis. A versão russa, entretanto, é diferente.
— Durante o reboque do navio Moskva até o porto de destino, o navio perdeu estabilidade por causa dos danos no casco (provocados) pelo incêndio após a explosão de munições — declarou o ministério, citado pela agência estatal TASS — Em condições de mar agitado, o navio afundou — acrescentou a pasta.
O ministério russo tinha informado mais cedo que o incêndio estava controlado e que o cruzador "mantinha sua flutuabilidade", ao mesmo tempo em que investigava as causas do incidente. As autoridades também declararam que o processo de reboque do navio estava em curso e que a tripulação de centenas de pessoas foi evacuada para outras embarcações da frota russa no Mar Negro.
Para o Pentágono, o afundamento do cruzador foi um "duro golpe" para a força naval russa no Mar Negro.
— Este é um duro golpe para a frota do Mar Negro, esta é uma parte-chave de seus esforços para efetuar algum tipo de domínio naval no Mar Negro — disse à CNN nesta quinta-feira o porta-voz do Pentágono, John Kirby — Isto terá efeito em suas capacidades — acrescentou.
Kiev diz que navio foi atingido por mísseis
As autoridades ucranianas afirmaram que o Moskva foi atingido por "mísseis Neptune", o que provocou "importantes danos neste navio russo", segundo o governador de Odessa, Maxim Marchenko.
O Moskva começou suas operações na era soviética, em 1983, e participou da intervenção russa na Síria a partir de 2015. O navio ganhou notoriedade no início da guerra na Ucrânia, ao se envolver no ataque contra a ilha das Serpentes, quando 19 marinheiros ucranianos foram capturados e trocados por prisioneiros russos.
Por outro lado, o Comitê de Investigação da Rússia afirmou que dois helicópteros ucranianos "equipados com armamento pesado" teriam entrado na Rússia e realizado "ao menos seis disparos contra edifícios residenciais da cidade de Klimovo", na região de Bryansk, que fica próxima da fronteira ucraniana. Sete pessoas, entre elas um bebê, sofreram ferimentos "de diversa consideração", segundo a fonte. Essas acusações, no entanto, não puderam ser verificadas de forma independente.
Kiev, por sua vez, rechaçou essas afirmações, acusando a Rússia de realizar "ataques terroristas" na região fronteiriça para alimentar a "histeria antiucraniana".
Retomada das evacuações
Na região do Donbass, no leste da Ucrânia, as autoridades ucranianas afirmaram que vão retomar as evacuações de civis, após suspensão ordenada por Kiev por considerá-las muito "perigosas".
— Os corredores humanitários na região de Luhansk vão funcionar com a condição de que cessem os bombardeios das forças de ocupação — assinalou a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk.
O governo estimulou a população da região a seguir para o oeste diante do temor de uma ofensiva russa em larga escala para controlar a área onde ficam as autoproclamadas "repúblicas" separatistas pró-Rússia de Donetsk e Luhansk. Mais de 4,7 milhões de refugiados ucranianos fugiram do país nos 50 dias transcorridos desde o início da invasão, em 24 de fevereiro, segundo as cifras reveladas nesta quinta-feira pelo Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur).
O Parlamento ucraniano aprovou, por maioria, uma resolução que qualifica como "genocídio" as ações do exército russo na Ucrânia, e pede a governos, parlamentos e organizações internacionais que façam o mesmo, segundo informou em seu canal no aplicativo Telegram.
Apoio dos países ocidentais
Desde o início da guerra, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, se mantém entrincheirado com a administração no centro da capital. Zelensky segue reivindicando aos países ocidentais o envio de armamento pesado para resistir à ofensiva russa.
O presidente americano, Joe Biden, prometeu na quarta-feira (13) uma nova entrega de ajuda militar avaliada em 800 milhões de dólares, após hesitar em enviar equipamento pesado pelo temor de um agravamento ainda maior das tensões com Moscou e de ser considerado parte no conflito.
O pacote inclui artilharia de última geração, como os canhões M777 Howitzer, 40.000 obuses, 300 drones "kamikaze", 500 mísseis antitanque Javelin, radares antiartilharia e antiaéreos, 200 veículos blindados de transporte e 100 blindados leves, segundo a Casa Branca.
Agora, todos os olhares estão voltados para o estratégico porto de Mariupol, no sudeste da Ucrânia. O prefeito da cidade, Vadim Boishenko, desmentiu nesta quinta-feira (14) as declarações feitas ontem pelo Ministério da Defesa russo, de que suas forças tinham assumido o controle da zona portuária de Mariupol.
Repercussões econômicas mundiais
Analistas acreditam que o presidente russo, Vladimir Putin, quer assegurar uma vitória no leste antes do desfile militar de 9 de maio na Praça Vermelha, em Moscou, que comemora a vitória soviética sobre os nazistas em 1945. Na Rússia, Putin pediu, em uma reunião de governo, para reorientar as exportações de energia para a Ásia.
Em nível global, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu as previsões de crescimento mundial para 2022 e 2023, mas, ainda assim, prevê um aumento do PIB na maioria dos países.
Já na zona do euro, a guerra tem repercussões "severas", segundo Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), devido ao aumento dos preços da energia, às perturbações na cadeia de suprimentos e à queda da confiança que entorpece as perspectivas.