A Assembleia Geral das Nações Unidas suspendeu a Rússia, nesta quinta-feira (7), do Conselho de Direitos Humanos da organização, em represália pela invasão da Ucrânia. Dos 193 Estados-membros da assembleia, 93 votaram a favor da suspensão, enquanto 24 votaram contra e 58 se abstiveram — entre eles, o Brasil —, o que sugere um enfraquecimento da unidade internacional contra a Rússia.
Esta é a segunda vez que um país é suspenso do conselho. A Líbia foi o primeiro, em 2011.
A medida foi apresentada pelos Estados Unidos, diante das hostilidades na Ucrânia por forças russas, em especial na cidade de Bucha.
O Kremlin lamentou a decisão e advertiu que Moscou pretende "continuar a defender seus interesses por todos os meios legais".
— Lamentamos isso e continuaremos a defende nossos interesses por todos os meios legais e a nos explicar — reagiu o porta-voz do presidente Vladimir Putin, Dmitri Peskov, em entrevista ao canal britânico Sky News.
Já a Ucrânia expressou seu agradecimento pela suspensão da Rússia, afirmando que não cabe a "criminosos de guerra" estarem representados nesta instância da ONU.
"Os criminosos de guerra não têm lugar nos organismos da ONU encarregados da proteção dos direitos humanos", declarou o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, no Twitter. "Agradecemos a todos os Estados-membros que apoiaram a resolução e ficaram do lado certo da história", completou.
As abstenções, condenadas por Kiev, não foram levadas em conta, porque um voto favorável de dois terços dos países que são a favor ou contra é suficiente para uma suspensão.
Entre os países que votaram contra está a China, que a considera uma "iniciativa precipitada" que "adiciona lenha à fogueira" e um "precedente perigoso". A China tem buscado adotar um tom neutro durante sessões das Nações Unidas e exige que "qualquer acusação seja feita com base em fatos".
O embaixador chinês Zhang Jun disse, na sessão, que é necessário "evitar acusações sem fundamentos" e reforçou que diálogo e negociação são a única solução para a crise ucraniana. O representante da China reiterou que as imagens de destruição vistas em Bucha devem ser verificadas.
Irã, Cazaquistão, Bolívia e Cuba também se opuseram. A Venezuela defendeu o voto contra, mas perdeu o direito de voto devido ao acúmulo de pagamentos pendentes. Sem surpresa, Rússia, Belarus e Síria se opuseram à resolução.
Apesar da pressão nos últimos dias da Rússia para que os países votassem contra, vários Estados africanos, como África do Sul e Senegal, optaram pela abstenção, considerando que a resolução que suspende Moscou "prejudica os resultados da comissão de investigação" criada em março pelo Conselho de Direitos Humanos.
Brasil, México e Índia, atualmente os três membros não permanentes do Conselho de Segurança da ONU, também se abstiveram. Países como África do Sul e Brasil afirmaram que iriam se abster por desejarem mais informações e investigação para tomar a decisão. O embaixador do Brasil na ONU, Ronaldo Costa Filho, disse:
— O Brasil decidiu se abster na votação de hoje porque acredita que a comissão de inquérito deve ter permissão para concluir sua investigação independente para que as responsabilidades possam ser determinadas.
Ele acrescentou que seu país, "profundamente preocupado" com supostas violações de direitos humanos na Ucrânia, está "totalmente comprometido em encontrar maneiras de cessar imediatamente as hostilidades e promover um diálogo real que leve a uma solução pacífica e sustentável".