O papa Francisco reiterou nesta sexta-feira (3) os apelos por "fraternidade" e "diálogo", durante uma missa para milhares de pessoas em Chipre, no segundo dia de sua visita a esta ilha do Mediterrâneo.
O pontífice pediu para recuperar a "fraternidade diante de nossas próprias sombras e dos desafios que a Igreja e a sociedade enfrentam", durante a missa para 7 mil pessoas no estádio municipal de Nicósia.
— Se não nos reunirmos, se não falarmos, se não caminharmos juntos, não poderemos sanar plenamente nossa cegueira — disse Francisco diante do presidente cipriota, Nicos Anastasiades, e de um importante dispositivo de segurança.
Ele pediu aos fiéis que "permaneçam sempre unidos". No público eram observadas bandeiras libanesas, argentinas e até filipinas. Um coro de 130 pessoas de diferentes nacionalidades entoou canções em árabe, inglês e grego diante do altar.
"Mensagem de amor"
Entre os participantes da missa estavam membros da comunidade católica cipriota, que tem 25.000 pessoas, em sua maioria imigrantes asiáticos e africanos.
Janine Daou, de 39 anos, viajou do Líbano, "apesar das dificuldades econômicas", para "pedir ajuda" a seu país.
Jackylyn Fo Bulado, uma trabalhadora doméstica filipina de 31 anos, afirmou:
— Temos muita sorte, esperamos uma simples mensagem de amor e de paz do papa, e que abençoe o Chipre e o mundo.
A viagem é marcada pela vontade de diálogo com a Igreja ortodoxa, separada da Católica desde o cisma de 1054 entre Roma e Constantinopla.
O arcebispo Crisóstomo II, primaz da igreja local, recebeu o pontífice pouco antes de Francisco se encontrar com o Santo Sínodo, que reúne as principais autoridades ortodoxas da ilha na catedral de Nicósia.
— Espero sinceramente que tenhamos mais oportunidades para nos encontrarmos, para que nos conheçamos melhor, rompendo os muitos preconceitos e ouvindo de maneira dócil as experiências de fé de uns e outros — declarou o papa, antes de assegurar aos "irmãos" a "proximidade com a Igreja Católica".
Na quinta-feira, Francisco fez um apelo à "unidade", ante a "terrível ferida" da ilha cipriota, dividida desde 1974, quando aconteceu a invasão turca que desencadeou a formação da autoproclamada República Turca do Norte do Chipre (RTNC).
Oração ecumênica
Em uma região afetada pelos conflitos e a crise migratória, o papa alertou novamente a Europa sobre o perigo dos "muros do medo" e dos "interesses nacionalistas".
Após a visita de Bento XVI em 2010, esta é a segunda viagem de um papa à ilha de Chipre, que Francisco considera "um verdadeiro ponto de encontro entre diferentes culturas e etnias".
Com esta viagem, a 35ª desde sua eleição em 2013, Francisco pretende chamar a atenção sobre o tema migratório, um grande problema em Chipre e na região, que provoca tensões na União Europeia.
Francisco, de 84 anos e filho de migrantes italianos que se mudaram para a Argentina, não para de pregar sobre o acolhimento de milhares de "irmãos e irmãs", sem distinção de religião, ou de status de refugiado ou migrantes econômico.
Nesta sexta-feira, ele presidirá uma oração ecumênica, um momento de união de todos os cristãos, ao lado de migrantes em uma igreja da zona intermediaria da ilha administrada pela ONU.
O papa também cogita em levar para a Itália 50 migrantes que estão em Chipre, afirmou na quinta-feira o presidente da ilha. Mas o Vaticano não confirmou a informação.
As autoridades de Chipre afirmam que recebem o maior número de pedidos de asilo da UE em comparação a sua população: quase 10 mil durante os 10 primeiros meses do ano.