Morador de Porto Alegre desde 2002, Omar Atbai, 30 anos, deixou o Afeganistão junto com seus pais e as duas irmãs em 1996, ano em que o Talibã passou a governar o país e aplicou uma versão ultrarrigorosa da lei islâmica. Hoje, da capital gaúcha, ele e sua família acompanham a retomada do país natal pelo grupo extremista e temem, principalmente, que as mulheres sofram com a perda de direitos.
— É muito triste de ver, a gente fica abalado. As mulheres acho que vão sentir mais essa mudança, sofrer mais, porque é mais rigoroso para elas — conta Atbai.
Quando o Talibã governou o país entre 1996 e 2001, as escolas femininas foram fechadas, as mulheres não podiam viajar ou trabalhar e foram forçadas a usar uma burca em público, que cobre todo o corpo e rosto, com uma tela de tecido ao nível dos olhos.
Atbai nasceu em Cabul, na capital do Afeganistão, e, aos cinco anos, deixou o país junto com a família. Eles se refugiaram na Índia, onde permaneceram até 2002, quando foram enviados ao Brasil pela Organização das Nações Unidas (ONU). Em Porto Alegre, tiveram acesso a trabalho e estudo. O pai de Atbai, que teve dificuldades na adaptação a língua portuguesa, decidiu voltar para o Afeganistão alguns anos depois, em 2005.
Além do pai, Atbai também tem tias e tios no país:
— Eu conversei com meu pai ontem (segunda), nós sempre falamos. O que ele me disse é que está bem, estão todos bem, e que eles foram comunicados de que o grupo não será tão rígido quanto da outra vez. A gente sempre fica preocupado, mas saber que eles estão bem nos tranquilizou.
Ele conta que até o momento nenhum familiar manifestou interesse em deixar o país.
Das poucas memórias que tem de quando vivia em Cabul, Atbai recorda da guerra e de uma bomba que atingiu a casa de um vizinho. Na época, ele tinha dois anos. Hoje, na capital gaúcha, Atbai atua na ramo de informática. O jovem conta que ele e a família não têm planos de retornar ao país de origem.
— Eu sinto vontade de voltar para visitar, mas não para morar. Ver o meu pai, que não vejo há 16 anos, e nossos familiares. Mas precisa esperar as coisas acalmarem um pouco.