O governo cubano assegurou no domingo (11) que está disposto a defender a revolução "seja qual for o preço", diante dos históricos protestos contra a "ditadura", observados por Washington, que alertou Havana sobre o uso de violência contra os manifestantes.
"Defenderemos a #RevoluçãoCubana seja qual for o preço necessário!", proclamou o vice-ministro das Relações Exteriores, Gerardo Peñalver, em um tuíte acompanhado de um vídeo de simpatizantes comunistas marchando com bandeiras cubanas e aos gritos de "eu sou Fidel!".
Surpreendido com as "manifestações espontâneas" em várias cidades do país, incluindo Havana, o presidente Miguel Díaz-Canel lançou aos revolucionários "a ordem de combate".
"Convocamos todos os revolucionários do país, os comunistas, a tomarem as ruas onde quer que essas provocações ocorram, de agora em diante e em todos estes dias. E enfrentá-las com decisão, com firmeza, com coragem", disse Díaz-Canel em um discurso transmitido pela televisão, no qual acusou "a máfia cubano-americana" de estar por trás do levante.
O governo dos Estados Unidos reagiu no domingo, advertindo as autoridades cubanas contra o uso da violência contra "manifestantes pacíficos".
No Twitter, a subsecretária do Departamento de Estado dos EUA, Julie Chung, pediu "calma".
"Estamos profundamente preocupados com os 'chamados ao combate' em Cuba. Defendemos o direito de reunião pacífica do povo cubano", escreveu.
"Os Estados Unidos apoiam a liberdade de expressão e de reunião em Cuba e condenariam fortemente qualquer uso da violência contra manifestantes pacíficos que estejam exercendo seus direitos universais", tuitou o conselheiro de Segurança Nacional do governo americano, Jake Sullivan.
Já a Rússia alertou, nesta segunda-feira, contra "qualquer interferência estrangeira" na crise em Cuba, país aliado de Moscou.
"Consideramos inaceitável qualquer interferência estrangeira nos assuntos internos de um Estado soberano e qualquer outra ação destrutiva que desestabilize ainda mais a situação na ilha", disse o Ministério russo das Relações Exteriores em um comunicado.
De acordo com o site Inventario, 40 manifestações foram registradas no domingo, espalhadas por todo território cubano.
A maior parte delas foi transmitida nas redes sociais, neste país onde a chegada da Internet móvel apenas em 2018 tem servido para promover as reivindicações da sociedade civil.
Depois do meio-dia, o acesso à rede 3G foi cortado em grande parte do país. Foi restaurado somente no meio da tarde.
- "Pátria e vida!" -
Amplamente divulgados nas redes sociais, os protestos antigoverno começaram pela manhã, um fato incomum neste país governado pelo Partido Comunista, onde as únicas concentrações autorizadas costumam ser as do próprio partido único.
"Abaixo a ditadura!", "Que saiam!" e "Pátria e vida!" - título de uma canção polêmica -, gritavam milhares de manifestantes nas ruas de San Antonio de los Baños, uma pequena cidade de 50 mil habitantes a cerca de 30 km da capital Havana.
"Liberdade!", entoavam outras centenas em várias concentrações em Havana, onde houve confrontos entre os manifestantes e a polícia, que usou gás lacrimogêneo.
Ao anoitecer, vários grupos de simpatizantes do governo se reuniram em diferentes partes da capital para preparar a contra-manifestação, verificou a AFP.
Um cinegrafista da Associated Press foi agredido por um grupo pró-governo, enquanto um fotógrafo da mesma agência foi ferido pela polícia, informou a empresa.
Várias viaturas foram viradas e depredadas por cubanos furiosos. Várias pessoas foram detidas.
- Preocupação internacional -
Os protestos se espalharam para fora das fronteiras de Cuba. Em Miami, milhares de cubanos e cubano-americanos saíram às ruas do bairro de Little Havana em apoio aos protestos.
"Os jovens finalmente disseram 'chega, vamos fazer o que nossos velhos não conseguiram fazer'", disse Yanelis Sales à AFP. "Cubanos, estamos aqui com vocês dos Estados Unidos".
Apesar de reconhecer a "insatisfação" que alguns cubanos podem sentir pela escassez de alimentos e de remédios, combinada com os cortes diários de energia, Miguel Díaz-Canel também acusou Washington de agir.
"Há um grupo de pessoas, contra-revolucionárias, mercenárias, pagas pelo governo dos Estados Unidos, pagas indiretamente por agências do governo dos Estados Unidos para organizar este tipo de manifestações", disse.
Após uma breve reconciliação entre 2014 e 2016, as relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos estão em seu nível mais baixo desde que Donald Trump reforçou o embargo em vigor desde 1962.
Essas sanções e a ausência de turistas, devido à pandemia, mergulharam Cuba em uma profunda crise econômica e geraram forte insatisfação social.
"Reconhecemos a reivindicação legítima da sociedade cubana por medicamentos, alimentos e liberdades fundamentais", tuitou o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro.
"Condenamos o regime ditatorial cubano por convocar civis para reprimir e enfrentar aqueles que exercem seu direito de protestar", acrescentou.
* AFP