Fiel à sua própria lenda, que poliu com esmero até ser nomeado marechal, o presidente Idriss Déby Itno, que governou o Chade por 30 anos de forma absoluta e solitária, morreu nesta terça-feira (20) após ser gravemente ferido em combates contra rebeldes.
Ele morreu um dia depois de ser proclamado vencedor das eleições presidenciais de 11 de abril e oito meses depois de coroar sua longa carreira com o grau de marechal do Chade em uma cerimônia pomposa.
Déby se gabava de ser um "guerreiro" de origem modesta, filho de um criador de gado, que soube se rebelar e tomar o poder em 1990 com um golpe de Estado, após derrubar o presidente Hissene Habré, que governava desde 1982.
Quase sempre contou com o apoio quase unânime da comunidade internacional, especialmente da França, ex-potência colonial, apesar das múltiplas violações dos direitos humanos.
Comandante-chefe do exército desde a presidência de Habré, Deby exercia um poder indiscutível.
Seu regime era regularmente acusado por ONGs internacionais de violar os direitos humanos.
Esse foi particularmente o caso na década de 1990, quando sua Guarda Republicana e a polícia política foram acusadas de assassinatos em massa.
- Intimidação e nepotismo -
Nas eleições de 11 de abril, apenas seis candidatos, descritos como fantoches pela oposição, de um total de 16 puderam concorrer e fazer campanha contra Déby.
Déby governou por meio de "intimidação" e nepotismo, alegavam seus detratores.
Parentes e amigos próximos ocupavam cargos importantes no exército, no aparato estatal e na economia.
Por outro lado, para evitar contrapoderes, mudava com frequência seu governo. Entre 1991 e 2018, o Chade teve 17 primeiros-ministros.
Déby, que fez seus estudos militares na França, exerceu o poder apoiando-se nas Forças Armadas, consideradas uma das mais eficazes da região e comandadas por oficiais da etnia zaghawa e lideradas por pessoas próximas a ele.
No entanto, nos últimos meses, após o surgimento de divisões entre os zaghawas, o chefe de Estado realizou um expurgo de oficiais "duvidosos".
Em 2008, Tima Erdimi, sobrinho de Déby, liderou uma rebelião que quase chegou ao poder, mas o presidente triunfou graças ao apoio do exército francês.
- Apoio francês -
Em 2019, uma nova rebelião foi contida perto de N'Djamena pela aviação francesa.
O Chade de Déby era considerado um elemento de estabilidade em meio a países mergulhados em conflitos e quase apátridas, como a Líbia, a República Centro-Africana e o Sudão.
Em 2013, Déby enviou soldados chadianos para lutar ao lado dos militares franceses para conter a ofensiva de extremistas islâmicos no Mali.
O Chade pagou um preço alto por esta intervenção devido aos ataques do grupo nigeriano Boko Haram na área do Lago Chade, que o forçaram a lançar uma contra-ofensiva em território nigeriano em março e abril de 2020.
O "incômodo amigo da França" e dos ocidentais, como o descreviam os especialistas da região, soube se tornar imprescindível na luta contra os extremistas.
Mas na frente social e econômica, o saldo foi mais do que negativo, já que o Chade, produtor de petróleo, ocupa a 187ª posição de 189 no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano da ONU (IDH).
* AFP