A Jordânia frustrou uma importante viagem de Benjamin Netanyahu aos Emirados antes das eleições israelenses, alertando o Estado hebreu de que não mais permitiria ser marginalizado e que contava com Joe Biden para se restabelecer.
Em segundo plano durante o mandato do republicano Donald Trump na Casa Branca (2016-2020) - aliado de Netanyahu - o reino haxemita acredita em mudanças com o democrata Biden.
A Jordânia deixou claro para Netanyahu ao impedi-lo de viajar pela primeira vez aos Emirados Árabes Unidos em 11 de março, menos de duas semanas antes das legislativas em Israel, enquanto o primeiro-ministro se gabava de ter estabelecido relações com este país, Bahrein, Sudão e Marrocos.
"Multiplicando os documentos para conceder permissão ao avião de Netanyahu para sobrevoar seu território (...), a Jordânia enviou a mensagem de que não tolerará mais o comportamento do primeiro-ministro israelense", disse à AFP Ahmad Awad, analista do Centro de Estudos Phenix em Amã.
"A Jordânia escolheu o momento certo para frustar o que deveria ter sido uma operação eleitoral para Netanyahu antes das eleições", concorda Orib Al-Rantawi, diretor do Centro de Estudos Políticos de Jerusalém.
Esse gesto também gerou "uma crise entre os dois países", acrescenta.
A gota d'água para os jordanianos foi o cancelamento, na semana passada, de uma visita planejada do príncipe herdeiro da Jordânia à mesquita de Al Aqsa em Jerusalém Oriental, o setor palestino da Cidade Santa anexada por Israel.
O príncipe Hussein decidiu renunciar à viagem porque Israel mudou de última hora o programa da visita, segundo o chefe da diplomacia jordaniana, Ayman Safadi.
- Pano de fundo -
O pano de fundo é a luta entre os dois países pelo controle da Esplanada das Mesquitas, onde está localizada a Mesquita de Al Aqsa.
Embora Israel ocupe a parte oriental de Jerusalém, esta mesquita é administrada pelo Waqf de Jerusalém, órgão que gerencia propriedades muçulmanas e que, por razões históricas, responde à Jordânia.
Israel "nega o acordo com a Jordânia, cria as condições para impossibilitar uma visita ao local religioso (...) e depois espera vir à Jordânia para sobrevoar seu espaço aéreo? Fala sério!", desabafou Safadi à CNN.
Essas declarações demonstram a mudança de tom de Haman em relação a Israel.
"Depois de anos de marginalização deliberada de seu papel sob um governo dos EUA mais à direita do que à direita israelense, a Jordânia agora está restaurando a situação", disse Ahmad Awad.
"A Jordânia está mais confortável" com o novo presidente dos EUA, confirma Al-Rantawi.
"O governo Trump ameaçou os interesses vitais da Jordânia no que diz respeito à solução final para o conflito israelense-palestino", acrescenta, aludindo à opção de transformar a Jordânia em um estado substituto para os palestinos, algo claramente rejeitado por Amã.
Em vez disso, o governo Biden "apóia a solução de dois Estados e vê a Jordânia como parceira. Voltamos às posições tradicionais dos EUA sobre o conflito israelense-palestino", acrescenta Rantawi.
* AFP