Bangladesh iniciou, nesta quinta-feira (3), a criticada transferência de quase 1.000 refugiados rohingyas para a ilha de Bhasan Char, uma formação sedimentar especialmente exposta a ciclones e inundações que a ONU e grupos de direitos humanos consideram um destino perigoso.
Ao todo, 922 rohingyas saíram hoje dos acampamentos de Cox's Bazar em ônibus, com destino ao porto de Chitaggong, antes da transferência em barcos da Marinha até Bhasan Char, no golfo de Bengala.
"Saíram quase 20 ônibus em dois comboios: um com 423 pessoas, e outro, com 499", declarou à AFP o comandante da polícia regional, Anwar Hossain, antes de informar que outros veículos deveriam sair algumas horas mais tarde.
Na ilha, foram construídos abrigos para receber até 100.000 pessoas e diques para proteger o local das inundações. Em um primeiro momento, 2.500 rohingyas devem ser levados para lá.
O escritório da ONU em Bangladesh publicou um comunicado, no qual afirma que não participou do processo de transferência dos refugiados, sobre o qual tem "poucas informações".
De acordo com a nota, a ONU não foi autorizada a avaliar as condições de "segurança e viabilidade" da ilha. A organização destaca ainda que os refugiados deveriam "poder tomar uma decisão livre e baseada em informações corretas antes de sua transferência".
Em seu comunicado, a ONU ressalta também que, uma vez no local, os rohingyas teriam de ter acesso à educação e saúde e, caso não desejem, deveriam ser autorizados a deixar o local.
Grupos de defesa dos direitos humanos, como a Human Rights Watch e a Anistia Internacional, denunciaram que alguns refugiados foram obrigados a seguir para a ilha.
A informação foi corroborada por algumas famílias, com as quais a AFP conversou nesta quinta-feira.
"Agrediram meu filho sem piedade, arrancaram um dente dele, e ele teve que concordar em seguir para a ilha", denunciou Sufia Khatun, de 60 anos.
O ministro bengali das Relações Exteriores, A.K. Abdul Momen, afirmou que as acusações dos grupos de direitos humanos eram "falsas", garantiu que as famílias seguem para a ilha de "maneira voluntária" e que as condições de vida serão "muito melhores" que nos campos.
Quase 750.000 refugiados rohingyas, uma minoria perseguida em Mianmar, fugiram em 2017 de uma perseguição do Exército e de milícias budistas. Eles se uniram aos cerca de 200.000 que já estavam em Bangladesh, depois de fugirem de ondas de violência anteriores.
A grande quantidade de refugiados provocou a criação de acampamentos em péssimas condições de saúde, que pioraram com a pandemia do novo coronavírus.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) considera que, no momento, 860.000 rohingyas vivem em Bangladesh em campos próximos à fronteira com Mianmar. Outros 150.000 encontraram refúgio em outros países da região, e 600.000 continuam morando em Mianmar.
* AFP