Svetlana Tikhanovskaya, líder da oposição bielorrussa, pediu nesta quarta-feira (19) aos europeus que rejeitem os resultados da eleição presidencial "fraudulenta" de 9 de agosto antes de uma cúpula da União Europeia (UE) para estender as sanções contra o regime de Alexander Lukashenko.
Declarado vencedor com mais de 80% dos votos, Lukashenko, no poder desde 1994, enfrenta uma pressão crescente tanto em Belarus, com protestos diários e um movimento de greve que já afeta setores vitais para a economia do país, quanto no exterior.
Um terceiro manifestante, de 43 anos, faleceu em decorrência de um ferimento de bala na cabeça, segundo parentes e a imprensa. Ele participou em 11 de agosto de um protesto em Brest, durante o qual a polícia reconheceu ter feito uso de munição letal.
Em uma mensagem ao Conselho da Europa a partir da Lituânia, onde está refugiada desde 11 de agosto, Svetlana Tikhanovskaya exortou os europeus a rejeitar uma votação "nem justa nem transparente" e cujos resultados "foram falsificados".
"Pessoas que foram defender seus votos nas ruas de suas cidades foram brutalmente espancadas, presas e torturadas pelo regime que está desesperadamente agarrado ao poder", ressaltou, dizendo que Lukashenko "perdeu toda a legitimidade".
Professora de inglês por formação, novata na política, Svetlana Tikhanovskaya, de 37 anos, virou a campanha presidencial de cabeça para baixo ao reunir multidões sem precedentes em seus comícios. Reivindica a vitória e denuncia fraudes.
Ela substituiu o marido, Sergei, um proeminente blogueiro preso em maio depois de se candidatar contra Alexander Lukashenko. Acusado de "perturbar a ordem pública", ele pode ser condenado a vários anos de prisão.
A situação em Belarus é o tema de uma cúpula extraordinária da UE iniciada nesta quarta. Os líderes europeus discutem uma possível extensão a outras autoridades bielorrussas das sanções já tomadas na semana passada após a repressão às manifestações.
Na terça-feira, os líderes europeus instaram Vladimir Putin a pressionar Alexander Lukashenko, de quem é aliado, para promover o diálogo com a oposição. O presidente francês Emmanuel Macron pediu "apaziguamento e diálogo", enquanto a chanceler alemã, Angela Merkel, enfatizou que Minsk deve "renunciar à violência".
O presidente russo expressou apoio cauteloso ao seu vizinho, com um alerta contra qualquer "tentativa de interferência estrangeira" em Belarus. A atitude da Rússia, parceira política, econômica e militar de Minsk, será crucial para o desfecho da crise.
- "Transição pacífica do poder" -
A oposição tem se manifestado todos os dias desde a eleição de 9 de agosto e organizou a maior mobilização da história do país no último fim de semana, com 100.000 participantes. Também convocou um movimento de greve que já atinge vários setores importantes do país.
No entanto, houve inúmeros relatos de ameaças e pressões sobre os trabalhadores das fábricas em questão, reduzindo o número de grevistas em comparação com o início do movimento na segunda-feira.
Esta manhã, dezenas de manifestantes se reuniram em apoio aos grevistas nas minas de potássio de Soligorsk, ao sul de Minsk, enquanto a polícia prendeu vários manifestantes em frente à fábrica de tratores MTZ da capital.
As forças de segurança também bloquearam a entrada do Teatro Acadêmico do Estado, cujo diretor, que se juntou aos manifestantes, foi demitido.
Lukashenko agradeceu aos trabalhadores que não aderiram à greve, ao mesmo tempo que acusou o Ocidente de financiar a oposição e de "desviar a atenção dos problemas que existem" em seus próprios países.
Em quatro noites de protestos reprimidos pela polícia, três pessoas morreram, dezenas ficaram feridas e mais de 6.700 foram presas. Os detidos relataram espancamentos e torturas.
A oposição formou um "Conselho de Coordenação" com o objetivo de "facilitar a transição pacífica do poder por meio do diálogo". De acordo com Tikhanovskaya, "pressionará imediatamente por novas eleições presidenciais justas e democráticas sob supervisão internacional".
Alexander Lukashenko, por sua vez, rejeitou este conselho e denunciou uma "tentativa de tomada do poder". Ele ameaçou "esfriar alguns cabeças quentes".
* AFP