As autoridades bielorrussas apresentaram, nesta quinta-feira (20), acusações contra o "Conselho Coordenador" da oposição, criado para promover a transição política após as eleições presidenciais de 9 de agosto, acusando-o de "ameaçar a segurança nacional".
Dando continuidade ao histórico movimento de protesto pela saída de Alexander Lukashenko, este "Conselho" foi veementemente denunciado pelo presidente, que o vê como uma tentativa da oposição de "tomar o poder" e ameaçou "esfriar algumas cabeças exaltadas" que o integram.
"O objetivo da criação e das atividades desse conselho é tomar o poder e minar a segurança nacional de Belarus", repreendeu o procurador-geral da República, Alexandre Koniuk, em vídeo postado nesta quinta-feira na rede social Telegram.
Ele anunciou a abertura de uma investigação por "convocação a ações com tendência a prejudicar a segurança nacional", acusação que pode acarretar penas de três a cinco anos de prisão.
Ivan Noskevich, diretor do Comitê de Investigação de Belarus, órgão encarregado dos processos criminais, disse que um "grupo de investigação" foi criado e que já havia "iniciado o seu trabalho".
A oposição rejeita essas acusações, denunciando a "pressão e repressão contra cidadãos pacíficos".
O "Conselho de Coordenação" da oposição reuniu-se pela primeira vez na quarta-feira e pediu a organização de novas eleições "de acordo com as normas internacionais" e o "início imediato das negociações" com as autoridades.
Entre seus membros está a prêmio Nobel de Literatura, Svetlana Alexievich, e Pavel Latushko, ex-ministro e embaixador.
No 12º dia da crise política, o presidente francês, Emmanuel Macron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, propuseram uma mediação europeia, incluindo a Rússia.
"É essencial um diálogo entre as autoridades, a oposição e a sociedade civil (...) A União Europeia está pronta a acompanhá-lo, caso o nosso papel de mediação for útil e desejado pelos bielorrussos juntamente com outras instituições, incluindo a Rússia", declarou o presidente francês junto com a chanceler alemã.
A União Europeia (UE) declarou na quarta-feira estar "ao lado dos bielorrussos" e rejeitou o resultado, após uma cúpula extraordinária em que também prometeu sanções adicionais contra autoridades bielorrussas responsáveis por "violência, repressão e fraude eleitoral".
A Rússia mantém uma posição cautelosa.
Por sua vez, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, anunciou nesta quinta-feira apoio aos manifestantes em Belarus.
"Os Estados Unidos se inspiram na manifestação pacífica dos cidadãos bielorrussos que buscam definir o próprio futuro", declarou Pompeo em comunicado.
Segundo o chefe da diplomacia nos EUA, seu país mantém o compromisso "de apoiar a longo prazo a soberania e integridade territorial de Belarus".
- "Sem revoluções" -
Lukashenko enfrenta manifestações diárias e uma greve convocada pela oposição, que rejeita o resultado das eleições.
Antes, a principal figura da oposição, Svetlana Tikanovskaia, refugiada na Lituânia, pediu aos europeus que rejeitassem o "falso" resultado das eleições, considerando que Lukashenko "perdeu toda a legitimidade".
Sua porta-voz, Anna Krassulina, disse à AFP nesta quinta-feira que ela está "muito grata" pelo apoio europeu e pediu aos líderes do regime que estabeleçam um diálogo com a oposição, por uma "transição pacífica de poder".
"Entraremos nessas negociações após um gesto de boa vontade da parte deles com a libertação de todos os presos políticos", afirmou, acrescentando que os protestos vão continuar.
Lukashenko, de 65 anos, rejeitou repetidamente a ideia de deixar o poder. Na quarta-feira, ordenou o fortalecimento dos controles nas fronteiras e pediu às forças de ordem para que garantam que "não haja mais agitação em Minsk".
Ele nomeou seu governo, no qual o primeiro-ministro Roman Golovshenko, o primeiro-ministro do Interior Yuri Karaev e o ministro das Relações Exteriores Vladimir Makei mantiveram seus cargos.
Makei, um moderado, reconheceu nesta quinta-feira no site de seu ministério que "mudanças" são "necessárias", mas "não à custa de conflitos civis ou revoluções".
O Exército anunciou hoje manobras ao longo das fronteiras com a Polônia e a Lituânia.
Após as eleições de 9 de agosto, a polícia reprimiu quatro noites de protestos, com três mortes, dezenas de feridos e mais de 6.700 detidos, muitos dos quais relataram espancamentos e torturas.
* AFP