O cheiro de gás lacrimogêneo ainda é sentido no ar de Portland, o mais recente epicentro das manifestações antirracistas. O caos atingiu a maior cidade de Oregon, oeste dos Estados Unidos, nas últimas três semanas coma chegada de policiais enviados pelo presidente Donald Trump.
A presença das forças policiais revitalizou os protestos pelo caso de George Floyd, um americano negro morto por um policial branco. Assim como no restante do país, essa manifestação já estava perdendo força.
Portland, com uma grande tradição de movimentos de protesto, tornou-se o epicentro desta causa com milhares de pessoas nas ruas todos os dias dias ao grito de "Black Lives Matter" (vidas negras importam) e "Sem justiça, não há paz", repetindo o nome de Breonna Taylor, Floyd e outros mortos pela polícia.
Trump havia enviado as forças federais para proteger o tribunal federal, que, desde a quinta-feira (30) passou a ser monitorado pela polícia de Oregon após um acordo com a governadora Kate Brown. Trump disse, entretanto, que os policiais permanecerão até que termine o que ele define como uma "limpeza de anarquistas e agitadores".
Os manifestantes dizem que a retirada dos policiais não enfraquece o movimento, porque os protestos não começaram por esta "intervenção", mas sim pelo racismo e a brutalidade policial que, conforme pregam, caracterizou a polícia deste estado por anos.
"As pessoas estão realmente comprometidas com a mudança... não acho que isso vai parar logo ou que vai perder o impulso", garantiu à AFP Sierra Boyne, uma jovem negra de 19 anos.
Por quase três semanas, a cena se repetiu: federais dispersavam as manifestações com gás lacrimogêneo, bombas de gás e balas de borracha, enquanto os manifestantes resistiam com guarda-chuvas abertos, escudos caseiros improvisados e até ventiladores mecânicos, para desviar a fumaça espessa.
Desde quinta-feira, quando os policiais deixaram a área, centenas de pessoas continuam se reunindo sem incidentes, observou a AFP. Os manifestantes dizem que continuarão nas ruas até que haja mudanças.
Boyne é precisa: quer o desfinanciamento da polícia e que se distribua mais riqueza entre as comunidades pobres, assim como a renúncia do prefeito democrata Ted Wheeler.
Alicia, de 46 anos, quer praticamente um impossível: que a Constituição dos Estados Unidos seja revogada. "Quero sonhar", se justificou.
Enquanto continuam nas ruas, os manifestantes acreditam que a trégua com a polícia durará pouco. Prontos para o retorno do gás e das balas de borracha, os jovens continuam chegando às manifestações com escudos, tacos de hóquei e máscaras de gás.
"É preciso estar pronto", disse um jovem que carregava no ombro um soprador como um fuzil. "Pronto para resistir".