O nitrato de amônio, causa das explosões devastadoras em Beirute (Líbano), é usado principalmente como fertilizante agrícola de "nitrogênio", mas pode ser componente de alguns explosivos para uso civil. O composto "é utilizado principalmente em fertilizantes de nitrogênio em culturas de leguminosas", diz a Sociedade Francesa de Química.
Esse tipo de fertilizante, apresentado na forma de grânulos brancos, é usado em todo o mundo para obter melhores rendimentos e, para muitos agricultores, é essencial.
No departamento de Gironde (sudoeste da França), Benoît Labouille cultiva 200 hectares de milho, canola e vegetais, na forma convencional e orgânica. Nesta quarta-feira (5), ele disse à AFP que usa "pouco mais de 10 toneladas" por ano de amonitrato, um fertilizante composto de nitrato de amônio, "para quase todas as culturas convencionais".
Essa fórmula de fertilizante nitrogenado é "muito útil", ressalta, porque "é diretamente assimilada pela planta", que precisa de nitrogênio para se desenvolver, por isso, se beneficia de um "pequeno incentivo". Ele ressalta que o produto deve ser armazenado separadamente "em galpões limpos e secos".
O Líbano é o maior consumidor de fertilizantes: com cerca de 330 kg/ha (hectare), o país utiliza o dobro da média mundial, informou a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) em fevereiro. O nitrato de amônio também é usado na fabricação de explosivos. "Misturado com TNT (trinitrotolueno) ou pentaeritrina, é usado na construção, em minas e pedreiras", especifica a Sociedade Francesa de Química.
Existem outros usos menores para esse composto químico, como combustível propulsor na indústria aeroespacial, por suas propriedades oxidantes. Dissolvido em água, causa uma reação endotérmica e é utilizado na confecção de sacos isotérmicos.
Na apicultura, a fumaça branca produzida pela queima de uma pequena quantidade serve para anestesiar as abelhas, no caso de mover uma colmeia, por exemplo.
Fabricação, preço e armazenamento
O nitrato de amônio (NH4NO3) é o resultado da reação que ocorre entre amônia e ácido nítrico. A Rússia é de longe o principal produtor, com quase 10 milhões de toneladas em 2017, ou seja, 45% da produção mundial.
Utilizado principalmente na agricultura, seu preço varia de acordo com as estações do ano. Entre 2018 e 2019, o valor médio por tonelada foi de 214 euros (cerca de US$ 254).
O composto e os derivados estão sujeitos a regras estritas: é conveniente armazená-los isolados de produtos incompatíveis com nitrato de amônio, especialmente produtos inflamáveis e líquidos corrosivos.
O principal perigo associado a esses fertilizantes com nitrato de amônio é "a detonação de amonitratos em altas doses", ou seja, com mais de 28% de nitrogênio. Para o Ministério da Agricultura francês, é pouco provável que ocorram incidentes, se armazenado adequadamente.
Para os fabricantes, "em geral, esses fertilizantes são seguros se forem manuseados de acordo com os regulamentos europeus".
Principais riscos e consequências
Insensível ao choque e ao atrito, o nitrato de amônio é um explosivo "medíocre", a menos que seja misturado com hidrocarbonetos, por exemplo, ou exposto ao fogo, de acordo com a Sociedade Francesa de Química.
— Sua onda (expansiva) de detonação causa grande destruição. É algo bem conhecido. O de Beirute foi um dos mais fortes da história — disse Daniel Vanschendel, especialista em explosivos. — A onda de explosão supersônica foi vista claramente em Beirute. Foi uma falha regulatória catastrófica, pois as regras são muito claras.
Stewart Walker, da Universidade de Flinders, na Austrália, também analisou o caso:
— Os primeiros vapores brancos, seguidos por uma grande explosão que causou uma grande nuvem vermelha e marrom, depois outra nuvem branca de cogumelo, indica que o gás emitido foram vapores de nitrato de amônio branco, protóxido de nitrogênio tóxico e água.