As autoridades bielorrussas multiplicaram, nesta segunda-feira (24), as prisões de opositores e líderes grevistas, no dia seguinte a uma nova manifestação maciça contra os resultados da eleição presidencial de 9 de agosto.
O movimento de protesto sem precedentes contra Alexander Lukashenko, no poder desde 1994, entra em sua terceira semana, enquanto o chefe de Estado aumenta suas declarações e atos marciais.
Nesta segunda-feira, dois membros do "conselho de coordenação", criado pela oposição bielorrussa para impulsionar uma transição política após as controversas eleições presidenciais de 9 de agosto, foram presos.
Serguei Dilevski, presidente do comitê de greve da fábrica, e Olga Kovalkova foram presos pela polícia antidistúrbios na entrada da fábrica de tratores de Minsk, disse à AFP Denis Sadvoski, aliado político de Kovalkova.
O serviço de imprensa da oposição confirmou as prisões, afirmando que ocorreram "devido a um procedimento administrativo", o que pode estar vinculado à manifestação em massa não autorizada que aconteceu domingo na capital.
Olga Kovalkova, acompanhada de outro membro deste conselho, o advogado Maxim Znak, apresentou na sexta-feira uma denúncia no Tribunal Supremo, solicitando a anulação da eleição presidencial, oficialmente vencida pelo presidente Alexander Lukashenko com 80% dos votos.
Além disso, o presidente do comitê de greve de outra grande fábrica, a fábrica de veículos pesados MZKT, Alexander Lavrinovich, também foi detido pela polícia nesta segunda-feira enquanto colhia assinaturas em favor de uma nova paralisação trabalhista.
Finalmente, o co-presidente do comitê de greve do produtor de potássio Belaruskali, Bokun Anatoli, também foi preso em Soligorsk, uma cidade industrial localizada cerca de 135 km ao sul de Minsk, segundo o comitê de greve local.
A oposição, além de suas manifestações diárias, lançou greves que afetam setores-chave da economia bielorrussa, mas perderam força após várias pressões das autoridades sobre os trabalhadores.
- Lukashenko marcial -
O anúncio dos resultados da eleição presidencial, considerados fraudulentos, deu início ao atual movimento de protesto.
No domingo, cerca de 100 mil pessoas se manifestaram nas ruas da capital, como já haviam feito no dia 16 de agosto.
Alexander Lukashenko, entretanto, continua a endurecer sua posição desde o início das ações de protesto, denunciando uma conspiração ocidental ou fortalecendo o exército nas fronteiras.
Ele acusou o conselho coordenação da oposição de querer "tomar o poder" e ameaçou "esfriar alguns cabeças quentes".
Durante a manifestação no domingo, ele apareceu em um vídeo com um colete à prova de balas e um fuzil Kalashnikov nas mãos perto de sua residência em Minsk, chamando os manifestantes de "ratos".
Nesta segunda-feira, novamente, a agência de notícias estatal Belta divulgou um vídeo das declarações marciais de Lukashenko, mostrando-o em particular, arma na mão, saudando a polícia de choque.
A musa da oposição que reivindica vitória na eleição presidencial, Svetlana Tikhanovskaya, refugiada na Lituânia, deve falar na terça-feira perante uma comissão do Parlamento Europeu.
Ela se reuniu com o número 2 do Departamento de Estado dos EUA, Stephen Biegun, nesta segunda-feira, em Vilnus.
"Lukashenko não conta com o apoio do povo bielorrusso ou da comunidade internacional. Todos os dias ele se recusa a aceitar a vontade de seu povo, apenas prolongando e piorando a crise", disse durante esta reunião.
Enquanto viaja pela Ucrânia, o chefe da diplomacia alemã, Heiko Maas, reiterou o apelo europeu ao chefe de Estado bielorrusso para que aceite o diálogo para resolver uma "situação crítica".
"Acredito que Lukashenko percebe que nas últimas semanas as ruas ficaram cheias de manifestantes. É por isso que pedimos para que não recorra à violência, para respeitar os direitos dos manifestantes", disse ele.
A UE rejeitou os resultados da eleição presidencial e prometeu novas sanções contra um número "substancial" de autoridades no poder.
O Kremlin, que advertiu contra qualquer "ingerência estrangeira" em seu vizinho e criticou a oposição, observou, no entanto, que a manifestação de domingo aconteceu "sem provocações".
* AFP