O principal especialista em doenças infecciosas dos Estados Unidos, Anthony Fauci, disse nesta terça-feira(23) em uma audiência no Congresso que Donald Trump nunca lhe pediu para reduzir os testes de coronavírus, após comentários do presidente neste sentido acenderem alertas.
"Nenhum de nós foi instruído a reduzir os testes", disse Fauci a um painel da Câmara de Representantes sobre os esforços para mitigar a pandemia, que matou mais de 120.000 pessoas nos Estados Unidos desde o primeiro óbito confirmado em fevereiro.
"Na verdade, faremos mais testes", acrescentou Fauci.
Ao lado dele, três outras autoridades de saúde que assessoram a Casa Branca também responderam "não" sem hesitação quando um legislador perguntou se o presidente havia pedido para diminuir os exames.
Juntamente com Fauci, também declararam Robert Redfield, diretor dos Centros de Prevenção e Controle de Doenças (CDC), o secretário adjunto de Saúde, Brett Giroir e o chefe da agência reguladora de medicamentos (FDA), Stephen Hahn.
Ao contrário de Trump, que nunca foi visto em público usando máscara desde o início da pandemia, os especialistas a utilizaram durante toda a audiência, que durou cerca de seis horas, exceto quando precisavam falar ao painel.
- Contradições sobre os testes -
Trump, que busca a reeleição em novembro, levantou uma onda de críticas no sábado, quando, em um comício de campanha em Tulsa, Oklahoma, disse que os testes para detectar o COVID-19 são uma "faca de dois gumes", porque quanto mais são feitos, mais casos são encontrados.
"Quando você faz os testes... Você encontra mais pessoas, mais casos", argumentou.
"Então eu disse ao meu pessoal: 'Reduzam os testes'", acrescentou o presidente, diante de uma plateia na qual a maioria dos participantes não usava máscaras ou respeitava a distância social recomendada para evitar infecções.
Mais tarde, um funcionário da Casa Branca disse à AFP que Trump estava brincando, o que gerou ainda mais indignação entre os críticos do presidente.
Mas nesta terça-feira, o presidente insistiu que seus comentários não foram uma piada.
"Não estou brincando", disse Trump a jornalistas antes de destacar o "sistema de detecção de COVID-19 dos Estados Unidos como" o melhor "do mundo", que, segundo ele, analisou 25 milhões de pessoas.
"Com mais testes, encontramos mais casos", disse Trump, sugerindo ainda que números altos são uma responsabilidade política em ano eleitoral.
"Ter mais casos parece ruim", disse ele. "Mas, na verdade, o que acontece é que estamos encontrando casos".
Seu rival democrata nas próximas eleições presidenciais, o ex-vice-presidente Joe Biden, critica a administração da pandemia por Trump.
"É bem simples: se quisermos salvar o trabalho das pessoas e a vida das pessoas, precisamos de mais testes - e precisamos deles mais rápido. O presidente está desacelerando intencionalmente", escreveu Biden no Twitter nesta terça-feira.
- "Semanas cruciais" -
Muitos estados do país levantaram praticamente todas as medidas de contenção.
No entanto, cerca de 20 estados, principalmente do sul e oeste, registraram picos no número de infectados.
"As próximas duas semanas serão cruciais" para responder a esses surtos "preocupantes", alertou Fauci ao comitê do congresso.
Sem se referir diretamente ao comício de Tulsa, Fauci insistiu que as pessoas "não deveriam se reunir em multidão".
Em "uma manifestação ou comício", deve-se usar uma máscara, acrescentou, enquanto protestos antirracistas ocorrem em várias cidades dos Estados Unidos, após o caso de George Floyd, um afro-americano sufocado até a morte por um policial branco em Minnesota.
Fauci também disse que não falava com o presidente Trump há "cerca de duas semanas e meia".
- "Otimismo prudente" -
Os especialistas do governo, em comunicado conjunto, disseram que os desafios colocados pela pandemia são "históricos" e "significativos" e que essa emergência "provavelmente" se estenderá.
"Ainda estamos na primeira onda" da pandemia, disse Fauci, acrescentando que "certamente haverá infecções por coronavírus neste outono (boreal) e nesta primavera (boreal) porque o vírus não vai desaparecer".
"Estamos cautelosamente otimistas" sobre o progresso das pesquisas para obter uma vacina, disse Fauci, que espera que o tratamento esteja disponível "até o final do ano" ou no início de 2021.
* AFP