WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O presidente Donald Trump citou o Brasil pelo terceiro dia seguido nesta quinta-feira (30) ao falar sobre a pandemia do coronavírus, desta vez, em meio a críticas que fazia ao número de mortes na Suécia, país que não adotou medidas de distanciamento social.
Trump falou mais uma vez de forma espontânea do caso do Brasil, disse que as mortes no país são muito altas se observadas graficamente e que o aliado está passando por momentos difíceis.
O presidente americano, no entanto, evitou críticas diretas a Jair Bolsonaro, que minimiza a pandemia e é contrário à quarentena.
"Você compara as mortes na Suécia com a Dinamarca, Finlândia e Noruega. Eu odeio dizer isso, mas as mortes estão substancialmente muito altas na Suécia. No Brasil [o número de mortes] está muito alto, se você olhar o que está acontecendo graficamente. É muito alto, é quase vertical, bem vertical", disse Trump.
Em seguida, emendou: "É amigo meu, um grande homem, o presidente do Brasil, mas eles estão tendo um momento difícil, estão indo por [imunidade de] rebanho. A Suécia está indo por rebanho. Quando dizem rebanho, na Suécia em particular, pode ir aos bares, a certos lugares, mas as pessoas não estão saindo [...] o número de mortes é enorme na Suécia, comparado aos países ao redor que fizeram paralisações fortes."
A chamada imunidade de rebanho ou de grupo acontece quando os imunizados formam uma espécie de cordão de proteção à doença depois de se infectarem e se recuperarem do vírus.
Na manhã desta quinta, Trump havia postado em suas redes sociais que a Suécia "paga caro" por não ter adotado a quarentena, citando o número de mortes no país, mais de 2.000, em comparação a nações europeias vizinhas, como Dinamarca, Noruega e Finlândia com, no máximo, 400 mortes.
Horas depois, durante a entrevista coletiva, o americano voltou a repetir as comparações e, então, chamou novamente a atenção para o avanço vertiginoso da pandemia no Brasil, como havia feito na terça e na quarta-feira.
Nesta quinta, o Brasil registrou 435 novas mortes e 7.218 novos casos confirmados de Covid-19, o maior número de diagnósticos em um único dia, e soma mais de 85 mil casos e quase 6.000 mortes.
Os EUA, por sua vez, têm mais de 1 milhão de casos e 60 mil mortes, e são o epicentro da crise no mundo.
Trump tem adotado cautela ao ser questionado sobre Bolsonaro, não critica a postura negacionista do aliado, mas não deixa de chamar atenção para a situação grave do país. O republicano, que no início também minimizava a pandemia, passou a defender medidas de isolamento em março, e agora voltou a pedir a reabertura de parte do país.
Na terça-feira (28), Trump disse que o Brasil estava enfrentando "um grande surto" por ter caminhado em direção diferente de outros países da América do Sul e voltou a cogitar a restrição de voos do Brasil aos EUA, como já havia feito no mês passado, mas ainda sem concretizar nenhuma medida.
Um dia depois, nesta quarta (29), Trump falou novamente do Brasil, mas sem citar os voos. Disse somente que o país estava passando "por uma situação difícil."
Horas antes, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, havia dito a um grupo de jornalistas que a retomada de voos entre Brasil e EUA era importante para a recuperação econômica dos países.
O governo brasileiro fez uma ofensiva sobre o tema, entrando em contato com a Casa Branca e com o governador da Flórida -ao lado de quem Trump estava quando falou sobre restringir voos- para evitar que qualquer medida fosse concretizada pelos americanos.
Em Washington, aliados e especialistas concordam que Trump costuma falar muitas coisas para agradar às suas bases, mas a retórica não necessariamente se concretiza em medidas práticas.
O eleitorado conservador do presidente é anti-imigração e aplaude medidas protecionistas.
Há nove rotas semanais entre Brasil e EUA, mas somente três estão em operação durante a pandemia. Duas via Flórida e uma, via Texas.