A Apple não alcançará suas metas de vendas trimestrais devido à epidemia do novo coronavírus, um sinal de que a desaceleração da produção e do consumo na China, onde o vírus já matou mais de 1.800 pessoas, afeta cada vez mais as grandes empresas.
A crise da saúde pesa tanto na oferta quanto na demanda. No caso da Apple, seus smartphones são fabricados na China, o que dificulta o abastecimento. As vendas também caíram devido ao fechamento temporário de suas lojas nesse país.
Neste contexto, as ações da Apple sofreram uma queda de 3% nesta terça-feira na abertura de Wall Street, após o anúncio de um declínio em suas previsões trimestrais devido ao impacto do novo coronavírus.
A Apple anunciou na segunda-feira que não alcançaria sua previsão de faturamento no segundo trimestre (entre 63 e 67 bilhões de dólares) devido à epidemia.
No final de janeiro, durante o anúncio de resultados recordes graças a uma forte demanda pela linha do iPhone 11, a Apple enfatizou que a epidemia gerava incerteza.
Sua previsão de volume de negócios para o segundo trimestre refletiu essas dúvidas naquele momento, com um alcance muito maior do que o normal.
A Apple possui subcontratados na região de Wuhan, epicentro da epidemia, mas também possui fornecedores alternativos.
"O retorno às condições normais leva mais tempo do que tínhamos previsto", afirmou o grupo californiano, que acrescentou que uma "escassez de iPhones" afetará temporariamente seu volume de negócios em todo o mundo.
- O luxo não está imune -
A Apple afirmou, no entanto, que apenas na China sua demanda diminui. "Estamos no processo de reabrir progressivamente nossas lojas e continuaremos a fazê-lo (...) da maneira mais segura possível", destacou a empresa, acrescentando que seus escritórios, call centers e lojas online nunca deixaram de funcionar normalmente.
Desde o início da doença respiratória em dezembro, mais de 1.800 pessoas perderam a vida na China e cerca de 72.300 estão infectadas com o vírus que a causa, de acordo com os últimos dados oficiais divulgados nesta terça-feira.
"Nossos pensamentos estão com as comunidades e indivíduos mais afetados pela doença (...). A Apple mais que dobrará a doação anunciada pra apoiar esse esforço histórico pela saúde pública", afirmou a empresa.
Segundo a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Kristalina Georgieva, o coronavírus fez com que o crescimento mundial caísse entre 0,1 e 0,2, mas enfatizou que ainda é muito difícil avaliar seu impacto na economia.
A Apple não é o primeiro grupo a modificar suas previsões devido à epidemia.
O grupo especializado em bebidas alcoólicas Pernod Ricard revisou suas metas de resultados anuais na semana passada. A China, seu segundo mercado, é onde são feitas 10% de suas vendas globais.
A indústria de luxo está particularmente preocupada. Kering, dona de marcas como Yves Saint Laurent e Gucci, entre outras, também registrou um declínio acentuado em suas vendas na China, e a grife de moda londrina Burberry alertou para um "impacto negativo importante".
- Perdas nos parques da Disney -
Vários fabricantes de automóveis também foram igualmente afetados pela crise de saúde em Wuhan. Nessa região estão instalados DongFeng, o segundo fabricante na China, vários subempreiteiros, bem como os grupos franceses Renault e PSA.
A japonesa Toyota e a alemã Volkswagen tiveram que adiar o reinício da produção em suas fábricas de montagem.
A Tesla, construtora de veículos elétricos de ponta, anunciou durante a publicação de seus resultados no final de janeiro que sua fábrica de Xangai permanecerá fechada por ordem do governo chinês, o que causará atrasos na produção de seu Model 3 e poderá afetar levemente os ganhos trimestrais.
Por seu lado, a gigante do entretenimento Disney estimou que seus parques de diversão em Xangai e Hong Kong poderiam perder um total de 280 milhões de dólares se permanecerem fechados por dois meses.
E em Bruxelas, o presidente do Eurogrupo, que reúne os 19 ministros da economia da zona do eruo, afirmou segunda-feira que espera um impacto "temporário" do novo coronavírus no crescimento europeu.
"O surgimento e disseminação do coronavírus e seu impacto na saúde pública, na vida humana e na atividade econômica são uma fonte de crescente preocupação", afirmou a Comissão Europeia na quinta-feira em comunicado.
* AFP