Uruguai e Argentina divergiram em relação aos recentes acontecimentos na Bolívia, durante a Cúpula do Mercosul, em Bento Gonçalves, no RS, nesta quarta-feira (4).
O Uruguai, que não reconheceu até hoje a presidência interina de Jeanine Áñez, fez uma crítica à normalização de "legitimidades questionadas" de alguns governos, "apenas por conveniência regional". A Bolívia é um Estado associado do Mercosul.
— Devem ser poucos os países como o Uruguai, em que há eleições e um vencedor ganha com uma diferença muito pequena de votos e não há nenhuma confusão. As duas partes aceitam o resultado e, no dia seguinte, tudo segue com normalidade — disse o chanceler uruguaio, Nin Novoa.
O chanceler disse que era preciso defender o Estado de Direito, e "não aceitar a adaptação de legitimidades de governos apenas porque convêm a uma situação regional", em uma referência clara ao novo governo interino da Bolívia.
Jorge Fauire, o chanceler argentino, afirmou que "há uma gravíssima crise de institucionalidade" na Bolívia, e que esta começou não agora, com a saída de Evo Morales, mas "com o desrespeito ao referendo de 2016".
À época, Evo convocou um referendo para saber se a população aceitaria mudar um artigo da Constituição que ele mesmo aprovou que o impedia de concorrer à reeleição pela segunda vez. Qual não foi sua surpresa quando a população disse que não, por 51,3% contra 48,7%. Mas ainda assim ele achou um jeito de se reeleger.
Faurie diz que a Argentina deseja que as eleições bolivianas aconteçam rapidamente.
— Nós somos solidários e oferecemos ajuda humanitária a países de ideologias distintas. É por isso que demos abrigo aos filhos de Evo Morales, mas gostaríamos de reforçar aqui que é necessário que, na Bolívia, se vigiem os direitos humanos, a liberdade de imprensa e se realizem eleições legítimas de modo rápido.
O chanceler também demonstrou preocupação com a situação do Chile.
— É preciso reforçar que o Chile é uma democracia e que precisamos vigiar isso. O que acontece com o Chile dói nos argentinos e não podemos colocar em dúvida que a saída para as crises sempre tem de ser por meio da democracia. Se caímos no jogo dos violentos, estaremos abrindo espaço a um autoritário que virá amanhã e destruirá nossa democracia.