Milhares de pessoas voltaram nesta sexta-feira (27) a enfrentar violentamente a polícia de Santiago, em uma nova marcha convocada em apoio a reivindicações sociais que eclodiram há mais de dois meses no Chile.
Por meio das redes sociais, os manifestantes foram convocados na última sexta-feira do ano à Praça Itália, em Santiago, um epicentro de protestos semanais, desde 18 de outubro, contra o governo de direita de Sebastián Piñera.
Como aconteceu na semana passada, a polícia cercou a área ao redor da praça , sem deixar que as pessoas se reunissem, e dispersou os manifestantes com jatos de água e gás lacrimogêneo.
Mas depois de quase duas horas de confronto e um incêndio em um centro cultural próximo, milhares de manifestantes finalmente conseguiram chegar ao centro da Praça Italia, constataram jornalistas da AFP.
"Vamos seguir na luta até Piñera dar o braço a torcer para as coisas que o povo está pedindo", disse Luis Rojas, 46 anos, sobre o pedido de mudanças no sistema de previdência privada, uma educação melhor e saúde, entre outros temas
As autoridades tentam retomar a normalidade do centro de Santiago, afetada pela convulsão social que começou com os protestos contra o aumento da tarifa do metrô, mas que resultou em uma demanda prolongada por profundas transformações sociais, à qual o governo Piñera tem dado uma resposta "insuficiente" de acordo com os manifestantes.
"Pedi aos Carabineiros o máximo compromisso de salvaguardar as pessoas que se manifestam pacificamente e solicitei o maior esforço para proteger a segurança dos cidadãos, aderindo aos protocolos e normas que regem as forças da ordem do país", disse o prefeito de Santiago, Felipe Guevara Stephens.
No meio dos confrontos, um incêndio foi registrado no Cinema Arte Alameda, um centro cultural tradicional que funciona há quase três décadas nas proximidades da Praça Itália, onde durante os protestos também abrigava uma equipe médica que atendia manifestantes feridos.
O incêndio começou no telhado do prédio e, segundo testemunhas, foi deflagrado após a polícia ter jogado bombas de gás lacrimogêneo na estrutura, uma versão que não foi confirmada por fontes oficiais.
As chamas foram controladas após quase uma hora, mas o centro "infelizmente está quase completamente destruído", disse o segundo comandante do Corpo de Bombeiros de Santiago, Diego Velázquez.
Os donos do cinema relataram que nenhum funcionário ou espectador foi ferido.
A manifestação foi convocada no mesmo dia em que o presidente Piñera assinou o decreto por meio do qual convoca um plebiscito para 26 de abril, para decidir se muda ou não a Constituição herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990 ), um dos caminhos de solução propostos para a crise social.
* AFP